Rokas (Mantas Janciauskas) é abordado numa noite, talvez algures
em Vilnius, por um amigo para fazer uma entrega de mercadoria humanitária na
Ucrânia, país em guerra entre nacionalistas e separatistas. Aceita levar uma
carrinha de roupas e alimentos e convida a namorada Inga (Lyja Maknaviciute)
para ir com ele. Partem da Lituânia, através da Polónia, até chegar ao Leste da
Ucrânia. Donbass. 2015.
Parece um argumento simples. A guerra parece, sob certos
aspectos, uma actividade humana, recorrente e bastante simples. Mas não é. E
não entendo a razão pela qual Sharunas Bartas teima em não determinar, durante
mais de duas horas, qual é a perspectiva que deseja dar sobre aquela guerra
civil.
Rokas e Inga aceitam o trabalho não remunerado sem viço,
avançam pelos territórios sem GPS, nem convicção. Não são voluntários, nem
mercenários, nem jornalistas, nem turistas, nem activistas, nem sequer amantes
muito amorosos. Ele não desarma o seu fácies sorumbático, ela, o seu sorriso um
pouco ausente.
Aprendem que a ajuda humanitária e o jornalismo de guerra são
discutidos entre lençóis desfeitos e taças de vinho, em hotéis caros. Constatam
que à frente de guerra não se chega em viagem lowcost. Afinal, em Donbass não encontram
resorts com coqueiros.
Parece-me bem que «Geada» é um filme inconsequente,
inconsciente e perigoso sobre um assunto fulcral da actualidade. Todos nós sabemos o que custa
viver em Goutha Oriental - Síria. Todos devíamos estar conscientes de como a
ONU, os voluntários e os corredores humanitários, teimam em fazer chegar alimento
e medicamentos sob um ‘cessar-fogo’ infernal e tão difícil de negociar.
A guerra não é um passatempo. E, já agora, o amor até pode
ser um passatempo, mas não é coisa despicienda ou alienável.
jef, março 2018
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