quarta-feira, 7 de março de 2018

Sobre o filme «Geada» de Sharunas Bartas, 2017















Rokas (Mantas Janciauskas) é abordado numa noite, talvez algures em Vilnius, por um amigo para fazer uma entrega de mercadoria humanitária na Ucrânia, país em guerra entre nacionalistas e separatistas. Aceita levar uma carrinha de roupas e alimentos e convida a namorada Inga (Lyja Maknaviciute) para ir com ele. Partem da Lituânia, através da Polónia, até chegar ao Leste da Ucrânia. Donbass. 2015.

Parece um argumento simples. A guerra parece, sob certos aspectos, uma actividade humana, recorrente e bastante simples. Mas não é. E não entendo a razão pela qual Sharunas Bartas teima em não determinar, durante mais de duas horas, qual é a perspectiva que deseja dar sobre aquela guerra civil.

Rokas e Inga aceitam o trabalho não remunerado sem viço, avançam pelos territórios sem GPS, nem convicção. Não são voluntários, nem mercenários, nem jornalistas, nem turistas, nem activistas, nem sequer amantes muito amorosos. Ele não desarma o seu fácies sorumbático, ela, o seu sorriso um pouco ausente.

Aprendem que a ajuda humanitária e o jornalismo de guerra são discutidos entre lençóis desfeitos e taças de vinho, em hotéis caros. Constatam que à frente de guerra não se chega em viagem lowcost. Afinal, em Donbass não encontram resorts com coqueiros.

Parece-me bem que «Geada» é um filme inconsequente, inconsciente e perigoso sobre um assunto fulcral da actualidade. Todos nós sabemos o que custa viver em Goutha Oriental - Síria. Todos devíamos estar conscientes de como a ONU, os voluntários e os corredores humanitários, teimam em fazer chegar alimento e medicamentos sob um ‘cessar-fogo’ infernal e tão difícil de negociar.

A guerra não é um passatempo. E, já agora, o amor até pode ser um passatempo, mas não é coisa despicienda ou alienável.

jef, março 2018

«Geada» (Frost) de Sharunas Bartas. Com Mantas Janciauskas, Lyja Maknaviciute, Andrzej Chyra, Vanessa Paradis. Polónia / Lituânia / França / Ucrânia, 2017, Cores, 132 min.

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