domingo, 11 de março de 2018

Sobre o disco «Landfall» de Laurie Anderson & Kronos Quartet, Nonesuch / Warner, 2018

















Talvez Laurie Anderson me tenha estado a falar da morte. Sempre. Desde «Walking and Falling» (Big Science, 1982) até «The Beginning of Memory» (Homeland, 2010) ou em «Heart of a Dog» (2015).

«And I looked at them floating there in the shiny dark water, dissolving.
All the things I had carefully saved all my life becoming nothing but junk.
All I thought how beautiful how magic and how catastrophic.»

Em Outubro de 2012, a tempestade Sandy inundou parte de Manhattan, afogando muitas das memórias, arquivos e projectos que Laurie Anderson coleccionara na sua casa.

«The water rises / and overflows / the city drowns / the full moon / a freak spring tide.»

Em 2013, a tempestade e os sonhos, a voz, o violino, a percussão, os sintetizadores da artista, reuniram-se ao som do Kronos Quartet para idealizar, compor, revisitar e apresentar «Lanfall». Diria que é uma longuíssima jornada, bela e melancólica, sobre a partida e a perda, a queda e o ver partir.

Como reter na memória o inexorável se o sonho é como uma falácia para que o subconsciente guarde o que não existe mais, para nos manter alegres dentro da mentira onírica?

«Don’t you hate it when people tell you their dreams? (…)
«Please don’t tell me your dream!»

Nunca se sabe bem qual o lado do meu sonho que Laurie Anderson me está a tentar desvendar, porque sempre que a oiço contar uma história sobre a Morte não consigo deixar de pensar que é uma história calma e nostálgica que eu já assisti bem no fundo do meu corpo. Laurie Anderson revela para pacificar e conduz-nos pelo percurso algo romântico da aceitação.

«You know the reason I really love the stars? It’s that we cannot hurt them.»

jef, março 2018

Sem comentários:

Enviar um comentário