Este filme é magnífico.
Representa o espírito de liberdade criativa, fuga ao
comprometimento estético vigente e respeito pelo eterno modo dramático. Assim é
o cinema de Aki Kaurismäki.
Acima de tudo é um filme sobre a génese do amor e do cinema.
Aki Kaurismäki interpreta a arte cinematográfica como modo de
subscrever o acto vital, esse modo romântico, apenas dele, que faz da tragédia
uma comédia interpretada por entes bondosos.
Aqui temos Rodolfo, o pintor (Matti Pellonpää), Marcel Marx,
o escritor (André Wilms), Schaunard, o músico vanguardista (Kari Väänänen),
Mimi (Evelyne Didi), Musette (Christine Murillo) e Baudelaire (Laika), o cão poeta,
apaziguador da dor e da ausência, companhia de um grupo de artistas pobres e
pouco reconhecidos, mas que constroem a sua sociedade em torno da Arte
e da Amizade sem limites. No final, Laika, em corrida em direcção ao negro,
duplica-se. Um sinal benfazejo, assim assumo.
As cenas e as personagens o realizador vai buscar a «Cenas da
Vida de Boémia» de Henry Murger, um escritor que não é lido mas ouvido pelas
pautas de Puccini.
Este é um filme que me lembra por vezes Wim Wenders ou Jim Jarmusch,
outras vezes Charlie Chaplin ou Jacques Tati.
Um filme magnífico a transbordar de humor, tragédia, teatro e
ternura.
jef, março 2018
«A Vida de Boémia» (La Vie de Bohème) de Aki Kaurismäki. Com Matti
Pellonpää, Evelyne Didi, André Wilms, Kari Väänänen, Christine Murillo, Jean-Pierre
Léaud, Laika, Carlos Salgado, Alexis Nitzer, Sylvie Van Den Elsen, Gilles Charmant,
Dominique Marcas, Samuel Fuller, Jean-Paul Wenzel, Louis Malle. Fotografia:
Timo Salminen. França / Itália / Suécia / Finlândia, 1992, P/B, 98 min.
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