Se eu fosse de colocar estrelas nos filmes, daria duas
estrelas a este filme de Jean-Claude Brisseau.
A primeira estrela seria pela forma como o realizador, por
motivos económicos, usa a própria casa como palco e cenário, deixando os nossos
olhos poisar sobre portas e trincos, dvd e livros empilhados, mazelas nas
paredes e salas desarrumadamente usadas. Isso é bonito e despudorado. A casa é
o filme.
A segunda, será pela desfaçatez de filmar um quarteto
amoroso, sem prolegómenos ou explicações. A história de três mulheres que se
amam. Camille (Fabienne Babe) encontra um telemóvel com vídeos muito sugestivos,
esquecido numa estação de comboios; Clara (Anna Sigalevitch) é a dona da casa
onde vive com Camille; e Suzy (Isabelle Prim) aquela que vai buscar o telemóvel a casa de Clara e Camille. Pouco depois, aparece Fabrice (Fabrice Deville), o namorado enlouquecido de Suzy. No andar de cima, vive um tio que levita e disserta, Tonton (Jean-Christophe
Bouvet).
Daria ainda uma terceira estrela pelas cenas de amor entre as
três mulheres, talvez as cenas mais credíveis do filme. Mas teria de a
retirar pelo fundo cósmico de ‘photoshop-vão-de-escada’ que Camille usa e que deslumbra Suzy.
Reafirmaria a terceira estrela pela falta de vergonha de uma
história sem história que termina sem começar, cuja lógica se perde na
incompreensão do quotidiano a tocar o limite da moral burguesa, e
que, em termos me fez lembrar alguns filmes de Luis Buñuel e de João César Monteiro. Mas
de novo teria de a retirar pela linha de diálogos-monólogos que sugerem quase
nada.
Restam, no total, as iniciais duas estrelinhas sublinhadas pelo
sorriso que me acompanhou durante toda esta comédia ‘classe D’.
jef, fevereiro 2018
«Que o Diabo Nos
Carregue» (Que le Diable Nous Emporte) de Jean-Claude Brisseau. Com
Fabienne Babe, Isabelle Prim, Anna Sigalevitch, Fabrice Deville e
Jean-Christophe Bouvet. França,
2018, Cores, 98 min.
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