Eis uma comédia expressionista sobre tudo o que há de mais
sério. A América suja, triste, paupérrima, sem eira nem beira, onde o sonho
americano é substituído pelo desespero que busca a fama e o dinheiro.
Baseados em factos atrozmente reais, o realizador Craig
Gillespie provoca um documentário falso que persegue uma ficção real. Se nos
rimos é porque nos custa ver personagens próximas da realidade a cair no abismo
da sua própria caricatura, onde a violência doméstica, a violência verbal, a
violência social, apenas nos indica como a arte na América é criada sobre os
próprios escombros.
Tonya Harding (Margot Robbie) tem um enorme talento para a
patinagem no gelo. [Essa arte em esforço, rodopiando fria sobre lâminas.] A mãe
LaVona (Allison Janney) sabe isso e tenta que ela, desde pequenina, venha a ser
a melhor patinadora do mundo. E consegue. A treinadora Diane Rawlinson (Julianne Nicholson) conhece a competência
de Tonya para vencer. O marido Jeff (Sebastian Stan), com quem se casa aos 18
anos, também. Todos fazem o impossível. Mesmo que o crime esteja por perto e
sejam acusados, próximo das Olimpíadas de Inverno de 1994, de maltratar
brutalmente a rival, Nancy Kerrigan.
Um dos grandes trunfos do filme são as interpretações de Margot
Robbie, Allison Janney e
Sebastian Stan. Outro é a
narrativa de Craig Gillespie feita de planos rápidos, truncados, quase aflitos,
dando expressão a um quadro único de resistência à agressividade e à
contrariedade social.
O filme torna-se muito particular, sendo uma das comédias
mais violentas que vi ultimamente, ao revelar a capacidade humana das
personagens de serem agressor e agredido, de suportar o vexame, serem ridículos
e tristes, e ainda assim, continuarem em frente.
jef, março 2018
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