Mal sabia eu que, cerca de cinquenta anos depois, estaria a ver um filme cujo sentido
comum parece ser mais actual do que nunca. Sempre é melhor 'fazer amor do que
fazer guerra', dizia-se na altura. Contudo, hoje em dia, num planeta em que a violência,
o belicismo e a morte se tornaram, de modo despudoradamente comercial, moeda corrente
de troca por petróleo sujo e minerais raros para baterias de carros e
telemóveis, «Hair», o musical e o filme de Milos Forman, surge como uma
espécie de comovente figuração dramática e universal, quase irreal, quase
ecuménica, quase religiosa do que o já referido planeta deveria ter-se tornado. Mas não se tornou!
Há
cinquenta anos, trauteava eu (sem tradução) o “Aquarius” ou “Let the Sunshine
In” sem perceber bem do que por ali se cantava – a luta contra a guerra (do Vietnam),
o pacifismo, o amor livre e a amizade plena, o planfeto contra o racismo e a
homofobia, a liberdade no interior profundo da sociedade que deveria ser
transformada. Cinquenta anos depois, o filme toca-me profundamente, parece-me
quase uma elegia fúnebre e ao mesmo tempo alegre e esperançosa por um Planeta
que ainda um dia sorrirá pelo seu futuro.
Milos
Forman transpõe sem excesso, comedidamente, essa musical luta de gerações e de
classes, esse libelo simples pela paz e pela alegria de viver em tranquila comunhão
com os outros e em democracia.
(Devemos
ainda tomar boa nota de que, no final, o general que comanda os militares em
formação prontos para o embarque em direcção à morte é, ironicamente, representado pelo realizador (e actor) mais carismático e irreverente de
Hollywood, sim esse que realizou «Johnny Guitar» (1954) ou «Fúria de Viver»
1955), Nicholas Ray).
Um
filme a rever em comoção, sempre e agora!
jef,
dezembro 2025
«Hair» de Milos Forman. Com John Savage, Treat Williams, Beverly D'Angelo, Annie Golden, Dorsey Wright, Don Dacus, Cheryl Barnes, Richard Bright, Nicholas Ray, Charlotte Era, Miles Chapin, Fern Tailer, Charles Denny, Herman Meckler, Agness Breen, Antonia Rey, George J. Manos, Linda Surh, Joe Acord, Michael Jeter. Argumento: Michael Weller segundo a peça musical composta por Gerome Ragni e James Rado. Produção: Michael Butler, Lester Persky. Fotografia: Miroslav Ondrícek. Coreografia: Twyla Tharp. Guarda-roupa: Ann Roth. EUA. 1979, cores, 121 min.



































