sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Sobre o filme «Apanhado a Roubar» de Darren Aronofsky, 2025

 























À pala de Quentin Tarantino.

Até que a Disney podia ter produzido o filme onde a personagem principal é um gatinho fofo, que vai resolvendo a cada passo uma intriga bem arquitectada dentro de um bairro pobre de Nova Iorque, nos finais dos anos 90 do século passado. O gato tem a custódia partilhada entre dois vizinhos: um quase imberbe Hank Thompson (Austin Butler) a trabalhar num bar após um terrível acidente de automóvel que roubou a vida ao seu melhor amigo e destruído uma promissora carreira de basebolista, e Russ (Matt Smith) que, em modo punk, parece ter umas quantas visitas indesejáveis ao domicílio. Este tem de se ausentar por causa da doença terminal do pai, que muito ama, deixando o gato ao cuidado de Hank, que todos os dias telefona a sua mãe, que muito ama. No final, tudo acaba em bem e Hank e o gatinho partem para uma estância balnear algures no magnífico planeta caribenho.

Bem, talvez a Disney tivesse que cortar as imagens ultra-violentas dos choques frontais com árvores e postes; talvez também tivesse algo a dizer sobre a profusão de mortes que sistematicamente perseguem o angelical Hank Thompson, tudo com bastantes litros de sangue a escorrer pelo soalho ou mesmo sobre a sutura feita com cola de contacto após os chantageadores lhe terem arrancado os pontos  a sangue frio, isto depois de lhe terem batido ao ponto do herói ficar sem um rim; talvez aquela produtora rejeitasse ainda a quantidade de mauzões "politicamente incorrectos" – russos (eslavos), latinos, judeus ortodoxos e, claro, uma polícia americana corrupta e maléfica.

Afinal, quase tudo morre mas nós ficamos felizes com o happy end desta comédia sangrenta! Um ponto muito a favor deste filme contra a regra hollywoodesca do “quanto mais lixiviado melhor”.

Outro ponto a favor são as interpretações de Regina King, a investigadora policial Roman, e Zoë Kravitz, a resistente namorada de Hank, Yvonne. Quando surgem parece absorverem totalmente as cenas, eclipsando tudo o resto.

Claro que antes da cena final, surgirá de raspão uma cara inesperada, uma cara muito Lynchiana. Viva!

Sabe sempre bem ver um filme à pala de Quentin Tarantino.


jef, setembro 2025

«Apanhado a Roubar» (Caught Stealing) de Darren Aronofsky. Com Austin Butler, Dominique Silver, Shaun O'Hagan, Action Bronson, Jake Bentley Young, Zoë Kravitz, Kitty Lawrence, Matt Smith, George Abud, Nikita Kukushkin, Yuri Kolokolnikov, D'Pharaoh Woon-A-Tai, Will Brill, Oleg Prudius, Regina King, Gregg Bello, Liev Schreiber, Vincent D'Onofrio, Eddie De Harp, Laura Dern, Macy Rodman, Bad Bunny, Henry Wong. Argumento e romance de Charlie Huston. Produção: Darren Aronofsky e Dylan Golden. Fotografia: Matthew Libatique. Música: Rob Simonsen. Guarda-roupa: Amy Westcott. EUA, 2025, Cores, 109 min.

 


domingo, 31 de agosto de 2025

 









Os Superviventes

 

«Pré-Histórias» é um caso muito sério da música popular portuguesa. E não será apenas por conter um conjunto inesquecível de canções. O álbum que Sérgio Godinho editou em 1972 encerra um fascínio peculiar, emite uma felicidade vindoura, transborda de juventude, solidária e contagiante. Apela à Democracia e à Liberdade.

Mas também não será apenas por isso… «Pré-Histórias» sucede sorridente a um álbum de estreia muito particular «Os Sobreviventes» (1971), que nunca temeu o brilho das duas obras-primas editadas antes, «Cantigas do Maio» de José Afonso e «Mudam-se os Tempos de José Mário Branco.

Mais, Sérgio Godinho afasta-se da circunspecta tradição da balada de Coimbra ou do fado de Lisboa e leva-nos até à jovialidade do rock ou do samba, embrulhando tudo numa teia musical complexa, de aparência simples e popular.

Ou seja, em vez de cantar o fim de uma ditadura, ele prefere anunciar o canto de uma nova ordem, alegre e democrática. Assim é o começo com o estranho “Barnabé”, que é diferente de todos os demais, e o final feliz com a chegada de “O Homem dos 7 Instrumentos”. Mas não se fica por aí, rejeita a poesia erudita e distante, cita um dos grandes poetas da palavra insólita – Alexandre O’Neill – e canta “o medo de ter medo” e o Porto surrealista. Mais, aqui o amor revela-se destemido, lúdico e sensual, “A Noite Passada”, mas também ferido, desesperado e lutador, “Aprendi a Amar”.

Um disco clarividente, onde a juventude, a velhice e o amor à liberdade de viver misturam-se num caos cheio de luminosidade e esperança. Se estas canções resultaram em «Pré-Histórias» foi, sem dúvida, por serem tão verídicas e fundamentais quanto a alegria e a razão que levaram à sua criação.

Um álbum para uma colecção muito restricta.

p.s. lembro-me quando os meus tios me deram o álbum acabado de sair, pelos meus anos, 14 diga-se, e que o ouvi ininterruptamente, como um disco alegríssimo para crianças que suspeitavam que iriam crescer em liberdade!


«Pré-Histórias» de Sérgio Godinho, Guilda da Música / Sasseti, 1972

Março de 1998

jef

 

sábado, 30 de agosto de 2025

Sobre o disco «Meus Caros Amigos» de Chico Buarque, Philips, 1978








Meu Caro Chico

Há discos que o tempo e o intrínseco valor musical fazem saltar das prateleiras carimbadas por épocas, estilos e rótulos fáceis, entrando nos dignos escaparates da  minha música clássica. Há também canções que se ouvem numa época, numa certa idade, que as torna geneticamente nossas, transformando os seus direitos em património cultural sem região ou relógio. Verdi, Gershwin, Mozart, José Afonso, Monteverdi, Cole Porter, Jacques Brel, Bach, Tom Waits… A esta lista, felizmente, poderão juntar-se muitos outros nomes mas ficará sempre incompleta enquanto não incluir o do inventor de canções Chico Buarque de Holanda. Entre obras inesquecíveis, encontramos um disco único que consegue a proeza de juntar dez dessas canções, unidas pela poética abstractamente concreta, os arranjos sinfónicos, o fundamento dos coros e, porque não, o acaso dos meus ouvidos. Afinal, «Meus Caros Amigos» é um disco absolutamente meu! Lá dentro, temos a profundidade de “O Que Será (À Flor da Terra)”, o hino anti-machista “Mulheres de Atenas”, o acto de regeneração afectiva de “Olhos nos Olhos” e “Você Vai Me Seguir», a urgência social e ecológica de “Vai Trabalhar Vagabundo” e “Passaredo”, a ternura quase de embalar “A Noiva da Cidade”, o eterno retorno e a saudade de “Basta um Dia” e “Meu Caro Amigo”. Escutar de novo, agora, este disco é reencontrar lá dentro a melhor memória de mim mesmo e, ao mesmo tempo, reviver o prazer de ouvir cantar (e com que paixão!) em português. «Meus Caros Amigos» é um dos poucos discos a levar para uma certa Berlenga, se deserta, minúscula e longínqua.

«Meus Caros Amigos» de Chico Buarque, Philips, 1978

13 de Dezembro de 1993

jef

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Sobre o filme «O Ouro de Nápoles» de Vittorio De Sica, 1954



 










































Nunca entendi muito bem o que significa o cinema italiano neo-realista. Por ignorância minha e por nunca me ter debruçado afincadamente sobre as teorias sobre ele elaboradas. Os meus pais eram devotos do cinema (e deste em particular) e com eles aprendi a também ser devoto de «Ladrões de Bicicletas (Vittorio De Sica, 1948) e «A Terra Treme» (Luchino Visconti, 1948), expoentes deste cinema. Com estes filmes (estreados no mesmo ano), percebi a carga política socio-económica de uma Europa a sair de uma grande guerra, a miséria de quem trabalhava sem proventos e a necessidade de exaltar a revolta dos explorados para que uma ordem mais justa surgisse. Nestes filmes tudo batia certo, a estética dos planos, o desespero no interior da comoção, o actores-não actores a representarem o dédalo injusto de uma sociedade que lhes negava a vida.

Contudo, ao deparar-me com outras maravilhas do cinema italiano, como por exemplo os seis episódios que integram «O Ouro de Nápoles», saio com o deleite do expressionismo das personagens, com a comicidade teatral de algumas das figuras e, mesmo naqueles dois trechos definitivamente trágicos, “Funeralino” e “Teresa”, a ideia que me fica da mãe órfã do filho, protagonizado por Teresa De Vita, e a esposa por consumar, encarnada por Silvana Mangano, a ideia que retenho é de um hiperactivo expressionismo interior, longe da assunção socio-política que me haviam proposto inicialmente. Talvez mais próximo de um existencialismo Dreyer, Bresson ou Bergman. Mas talvez seja eu que esteja a confundir tudo, a tudo complicar.

É evidente que a histriónica e emocional Nápoles, da alegria e dos desvalidos, dos gritos e do povo na rua, está lá toda. E os ricos são sempre farsantes ou mentirosos e os pobres, apesar de também por vezes mentirosos, são sempre olhados com um carinho descomunal – Totò (Don Saverio) contra Pasquale Cennamo (Don Carmine) em “Il Guappo”. Pierino Bilancioni (o pequeno Gennarino) contra Vittorio De Sica (Il conte Prospero B.) em “I Giocatori”. Eduardo De Filippo (Don Ersilio) contra Gianni Crosio (Alfonso Maria di Sant'Agata dei Fornai) em “Il professore”.

Ao ver estes episódios napolitanos recordo outro filme sobre a mesma cidade «As Mãos Sobre a Cidade» (Francesco Rosi. 1963). Não será este último, esteticamente também irrepreensível, quase uma década mais tarde, muito mais político, contendo sem apelo ou agrave uma crítica profunda a uma sociedade que deixa os mais pobres para trás, um filme muito mais “neo-realista”?

Enfim, permanecendo sem saber lá muito bem como catalogar o cinema italiano, continuo a dever-lhe extrema devoção.

 

jef, agosto 2025

«O Ouro de Nápoles» (L'oro di Napoli) de Vittorio De Sica. Com Totò, Lianella Carell, Sophia Loren, Paolo Stoppa, Pasquale Cennamo, Agostino Salvietti, Giacomo Furia, Alberto Farnese, Tecla Scarano, Pasquale Tartaro, Teresa De Vita, Vittorio De Sica, Pierino Bilancioni, Lars Borgström, Mario Passante, Silvana Mangano, Erno Crisa, Ubaldo Maestri, Eduardo De Filippo, Tina Pica, Nino Imparato, Gianni Crosio. Argumento: Cesare Zavattini, Vittorio De Sica, Giuseppe Marotta. Produção: Dino de Laurentiis, Carlo Ponti. Fotografia: Carlo Montuori. Música: Alessandro Cicognini. Itália, 1954, P/B, 131 min.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

O Túlipa Negra. «Black Rider» de Tom Waits. Island, 1993



 






O mês de Dezembro tem destas coisas, vem sempre no final do ano, traz invariavelmente o Pai Natal à perna, mas também oferece-nos quase sempre as melhores surpresas musicais. E para que este ano não fugisse à regra, o Menino Jesus lá acabou por nos pôr no sapatinho o disco mais fabuloso de 1993: «The Black Rider» - o álbum de capa branca de Tom Waits. Depois de nos ter presenteado, no ano passado, com um dos discos mais negros da sua carreira, «Bone Machine», mergulha ele de cabeça no seu bem amado teatro. Junta-se a Robert Wilson (o encenador) e a William Burroughs (o escritor) e estreiam em Hamburgo, em Abril de 1990, «The Black Rider», uma peça baseada numa antiga lenda da Alemanha, atafulhada de amores contrariados, pactos com o diabo, caçadores, belas encantadas e morte. E é pelo meio de tudo isto que Tom Waits consegue fazer o impossível: reestrutura as peças musicais, altera-lhes a sequência, introduz os sons mais irrequietos provenientes de um grande número de instrumentos musicais, impõe a força da sua voz destroçada, grava de forma íntima e expressionista para parecer que tudo se passa entre o palco do cabaré e a arena do circo e, por fim, envolve a sua obra perversa, futurista, num dos mais bizarros e interessantes grafismos (Robert Wilson), numa dos mais conceptuais direcção e arranjos musicais (Greg Cohen). Tom Waits põe à nossa disposição um enorme álbum onde apenas falta o suor dos actores, o calor dos holofotes e o pó dos bastidores. A seguir de «The Black Rider» só resta mesmo perguntar: o que é que o futuro de Tom Waits nos andará agora a preparar?

«The Black Rider» de Tom Waits, Island, 1993


13 de Dezembro de 1993

jef

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Para Além do Bem e do Mal
























































Para Além do Bem e do Mal

O filme mal acaba, as luzes da sala mal acendem e há já quem diga, ainda de casaco na mão, que «Tão Longe, Tão Perto!» não se compara com As Asas do Desejo (1987) e que Wim Wenders devia estar com juízo a arder quando se meteu a fazer continuações à americana e, pior, resolveu explorar o humor comum da comédia policial. Se esta opinião pode fazer algum sentido para quem se habituou a apreciar o cinema solitário e íntimo de Wim Wenders, ela revela-se, por outro lado, perfeitamente ingrata e precipitada.

O cinema alemão de Wim Wenders (e de todos os artistas que sempre o rodearam, a começar por Peter Handke) suporta sobre os ombros a angústia de um passado nazi da sua pátria (e não deles próprios) e a terrível herança de cidades, estradas e vidas separadas e sem destino: Alice nas Cidades (1973), Movimento em Falso (1975) e Ao Correr do Tempo (1976) são exemplos definitivos. Mas Wim Wenders não pretende deixar a História a meio e, anos mais tarde, resolve filmar o centro da ferida, povoando o céu que cobre Berlim de anjos irremediavelmente atraídos pelas almas torturadas, mas coloridas, dos habitantes da cidade dos muros e dos conflitos. Com As Asas do Desejo inventa um novo expressionismo para o cinema, humano e universal, e quebra as fronteiras do tempo, da cultura e da realidade. Em Até ao Fim do Mundo (1990) amplia esta ideia chegando aos limites do sonho, através da multiplicação das paisagens, dos actores e de uma banda sonora caleidoscópica. Mas a queda do muro de Berlim obriga o realizador a fechar a Trilogia do Mundo, fazendo-o voltar à cidade que, apesar de já não ter muro, continua sitiada.

«Tão Longe, Tão Perto!» é uma parábola terna e humorística sobre o Universo e o Tempo por nós criados e dos quais somos prisioneiros, protagonizada por anjos que sonham estar perto dos homens e por homens que pensam que os anjos são seres longínquos e inatingíveis. «Tão Longe, Tão Perto!» é, para além do bem e do mal, um filme optimista que acaba por se rir do próprio cinema, de si próprio, quando, na belíssima cena final, reúne no convés da barcaça Alekhan, em jeito de retrato de família, toda a sorridente legião de figuras angelicais, fazendo recordar a mestria de Jean Vigo em L’Atalante (1934).

 

24 de janeiro de 1994

jef

«Tão Longe, Tão Perto!» (In Weiter Ferne, So Nah!)  de Wim Wenders. Com Otto Sander, Peter Falk, Horst Buchholz, Mikhail Gorbachev, Nastassja Kinski, Heinz Rühmann, Bruno Ganz, Solveig Dommartin, Rüdiger Vogler, Lou Reed, Willem Dafoe, Monika Hansen, Günter Meisner, Ronald Nitschke, Hanns Zischler, Martin Olbertz, Aline Krajewski, Tilmann Vierzig, Antonia Westphal, Ingo Schmitz. Argumento: Wim Wenders, Ulrich Zieger, Richard Reitinger. Produção: Wim Wenders e Ulrich Felsberg. Fotografia: Jürgen Jürges. Música: Laurent Petitgand, Graeme Revell. Guarda-roupa: Esther Walz. Alemanha, 1993, Cores, 146 min.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Sobre o disco «Sounds of the Satellites» de Laika, 1997, Too Pure



 















O título do segundo álbum da banda inglesa remete-nos para uma espécie de confissão escondida no fundo cósmico da décima segunda e última faixa. Aguardemos em silêncio por ela. Entre electricidade estática e os sinais orgânicos de um animal encarcerado e sobreaquecido, a voz feminina vai expondo como a comunicação foi sendo feita com a pobre cadela enviada para testes siderais dentro do satélite soviético Sputnik 2, em finais de 1957. Não terá sido o único e primeiro cão a ser sacrificado, nem o último animal a ser lançado para a morte no éter astronómico.

Isto será apenas o fim condoído (ou o início inóspito) deste disco composto por Margaret Fiedler e Guy Fixsen (voz, sampler, guitarra, baixo, Minimoog sintetizador, percussão, trompete, programação e mistura). Depois vem Louise Elliott (flauta), Lou Ciccotelli (percussão), Rob Ellis (tambores, piano preparado, percussão, coro) e Alonso Mendoza (vibrafone).

Aliás como todo o cosmos real também este disco tem uma audível propensão onírica. Os sonhos são coisas etéreas que, caso não as agarremos com unhas e dentes, vão cair sistematicamente em saco roto. É como se a electrónica apresentasse uma dimensão romântica já com saudades de «Blue Lines» (Massive Attack, 1991) ou «Maxinquaye» (Tricky, 1995). Apenas, aqui, a poética integra uma suave linha circular quase a tocar o poema sinfónico, tal a finíssima minúcia da engenharia aplicada. Até à faixa número seis – “Bedbugs”.

A partir daí, o trip-hop vai abraçando o drum’n’bass, o ritmo acelera e parece querer assumir um duplo amor sentido também pelo groove do funk ou, depois, por aquele muito mais antigo jazz rítmico de fusão (de Hermeto Pascoal ou Weather Report). O ritmo acelera, a voz de Margaret Fiedler oferece-se à palavra quase dita, delirantemente poética. A flauta e o vibrafone vai trazendo os arcos melódicos ao meio mais terreno. “Shut Off / Curl Up”, faixa dez. Desliguemo-nos do mundo, voltemos à posição fetal.

Enfim, preparemo-nos para regressar à Terra, “Spooky Rhodes”. Há coisas que apesar de tão simples permanecem sem explicação. "Dirty Feet".

Melhor assim. Apaguemos a luz e que a alma de Laika nos proteja a partir do Paraíso dos Cães.


jef

agosto 2025