«– Desenganas-te. A verdade é
conhecida de toda a gente, mas uma coisa conhecida de toda a gente não possui
nenhum valor de troca. Estás a ver os patifes que controlam a informação a
vender verdades… Na melhor das hipóteses, toda a gente se ria deles. Por uma
razão bem simples, a verdade não tem nenhum futuro, ao passo que a mentira é
portadora de grandes esperanças.»
O riso reprimido com que o jovem ladrão bem apessoado, Ossama,
o inteligente jornalista perseguido e desaparecido, Karamallah, e o dito professor
de sociologia, crânio rapado, óculos escuros e barba preta a cobrir metade da
caras, Nimr, recebem no café o magnate dos prédios temporários, Atef Suleyman,
representa bem o modo como o autor traduz o seu desprezo pelos dignitários que a
troco do lucro conseguem explorar e sacrificar milhares de pobres
que, deste modo, vivem, rindo, sem queixas, chapinhando nos eflúvios fétidos dos
esgotos criados pelas desigualdades sociais.
O humor subjacente à verve filosófica de Albert
Cossery parece explicar a profunda injustiça social ligada à ganância,
à ignomínia e à infâmia do velho ou moderno capitalismo “contado às crianças e
lembrado ao povo”, como diria João de Barros.
A estratégia magnífica da sua escrita aprofunda e expõe a revoltada resignação, a irónica e calada insubmissão, fazendo a apologia do
pequeno delito ‘à Robin dos Bosques’ como modo prático de transferir a riqueza
dos ricos e poderosos para a sofredora iniquidade dos desvalidos.
Sobretudo, a finura da narrativa, das descrições dos lugares e indumentárias, o modo de lançar ideias por dentro da acção corrida são inesquecíveis.
Ficamos apaixonados por Ossama, Nimr e Karamallah!
Uma obra a manter por perto, amável e aguerrida, para conseguirmos atravessar com um assomo de esperança os tempos politica e
economicamente devastados em que se afunda neste momento o Universo.
Uma viva e actualíssima recomendação!
jef, dezembro 2025


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