Alguém aproxima-se e pergunta: «Quem és tu?»
Respondo: «Sou eu.»
É percorrida a imensa distância que, no cosmos, faz parecerem
vivas as estrelas que já morreram, pois a luz, velocíssima, anda a penar por
espaços inauditos, dirigindo-se, no fim sem fim, para dentro da nossa retina,
do nosso cérebro, da nossa incompreensão. Afinal, que distância é essa que
acertou mesmo no centro de nós? De que é feita a aproximação, qual a aceleração
de um encontro?
Pergunto «Quem és tu?»
Alguém responde «Sou eu.»
A distância percorrida pela identidade de quem responde com
semelhantes palavras é a identidade difundida. A certeza na palavra falada, apesar
de ser firmada em contrato íntimo, biunívoco. Palavra que é, ainda, o contrato
social. Duradouro, por definição de «Contrato». A semelhança define a realidade
de quem agora responde e de quem antes perguntou. A realidade do ser «Eu». A
realidade da aproximação. Qual a velocidade de um encontro?
«Quem sou eu?»
«És tu!»
A realidade existe. A realidade que anula o equívoco em que a
retina viajou, julgando a luz presente representar a vida dos astros pretéritos.
As palavras desenganam a retina. As palavras no presente, a luz diversa perdida
da origem.
«Quem sou eu?»
«Deixa-me responder.»
Porém, a distância percorrida até um tal encontro, fortuito
mas pouco fugaz, é real. Ulisses responde tal como o Romeiro, «Ninguém!», a
vida safa-se, a verdade também. E se na distância captada pela retina uns crêem,
na coincidente verdade dos «Eu» outros iludem-se. Mas «Ninguém» se atreve a negar
a realidade dos encontros, a inegável velocidade das estrelas.
jef, abril 2015
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