Consciência de classe ou esperança de classe.
Este filme é uma sucessão incoerente de modos de olhar.
Começa por uma anedota: um casal discute entre «consciência de classe» e «dores
de pernas» quando estão perante uma greve de transportes urbanos. Logo depois entramos
numa sequência de cenas em ritmo acelerado na casa de uma família da alta
burguesia. Dá-se a tragédia e a tomada circunstancial de consciência do mundo, da
miséria, da luta de classes, do trabalho, do delito, dos afectos, da
perturbação emocional. Irene e Andrea discutem entre consciência e esperança. O
ritmo abranda, os rostos surgem encantados. Ingrid Bergman versus Giulietta
Masina. O neo-realismo passa testemunho ao drama existencial, à intriga psicanalítica.
Roberto Rossellini versus Manoel de Oliveira, Frank Capra ou Alfred Hitchcock.
A causa religiosa versus a causa judicial. A causa política versus a bondade
pura e intrínseca, logo a causa mais íntima do ser humano. Ingrid Bergman
invade a alma do écran. Há quem a chame comunista, há quem a trate como
santa […]
[…] Talvez o dia-a-dia seja mesmo uma série incoerente de
paradoxos entre o trabalho, o amor, a consciência e o deslumbramento.
jef, abril 2015
«Europa 51» (1952) de Roberto Rossellini. Com Ingrid Bergman, Alexander Knox, Ettore Giannini, Giulietta Masina
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