Com Olivier Rolin o leitor aprende a orientar-se olhando o
planisfério. (Obriga-o a olhar o Espaço e o Tempo em simultâneo.) Entende
por que os cursos de História e de Geografia sempre andaram ligados. Por que os
livros de História são ilustrados por tantos mapas coloridos. Percebe que a
memória, tal como sugere Gonçalo M. Tavares, resolve tanto a distância a que se
encontra alguém ausente como o passado que ainda está por resolver.
Com Olivier Rolin, percebe que a ficção, a melhor ficção,
enterra os pés, como raízes, no sentido geográfico e emocional da realidade.
«As histórias não caem do céu nem das nuvens, não me parece
mal que apresentem credenciais.»
O autor viaja muito e a paisagem é um dos seus portos de
abrigo. Talvez o principal. Ele lê muito. A literatura fá-lo concretizar a
paisagem que lhe interpreta a linguagem.
Sibéria.
«“Campo”, naturalmente, é uma palavra despropositada. A
Sibéria, campo?... Como já disse a respeito de Irkutsk, há palavras francesas
que significam coisas, paisagens francesas, nada adequadas às coisas ou
paisagens russas. A Sibéria não é “província” nem “campo”, é um continente.
Talvez a palavra “solidão” fosse melhor, no seu sentido antigo e latino de “local
deserto”. Vastae solitudines.»
Então o vasto continente é mais de Tchékhov do que de
Cendrars.
Olivier Rolin ensina-nos a interpretar a solidão. A nossa
solidão.
O autor também ensina a perversidade de comparar-se os
pesadelos da História. Comparar Auschwitz, na Polónia, com Kolimá, na Sibéria,
é relativizar sofrimentos, e o sofrimento pertence a cada corpo, a cada alma, na sua individualidade única. Mesmo assim, a comparação é válida por trazer ao (re)conhecimento
o Gulag, bem menos «famoso» que os campos nazis.
Olivier Rolin faz-nos viajar ao mar Branco, até às ilhas
Solovki, fim do trajecto de Alexei Feodossievitch Vangengheim. Entusiasta
meteorologista, entusiasta da realidade soviética, director do serviço
Hidrometeorológico da URSS, para ali transferido em 1934. Mais tarde, integrado
na memória fotográfica patente em postes enterrados na neve. «Floresta dos
Fuzilados».
«O Meteorologista» termina com o mais comovente álbum
ilustrado que o protagonista foi enviando à sua filha, Eleonora. (Herbário Aritmético e Geométrico, Bagas,
Animais, Adivinhas, As Plantas e o Clima, Cartas).
Olivier Rolin, um dos mais importantes escritores
contemporâneos da paisagem e da consciência.
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