Para bem entender o enquadramento clássico deste melodrama precisei de voltar às Folhas da Cinemateca e a João Bénard da Costa.
É bom encantarmo-nos com um filme e sentir que ele nos toma o
coração e a razão à medida que os minutos vão passando.
João Bènard da Costa cita «A Oeste Nada de Novo» de Erich
Maria Remarque (1929) para citar «The Man I
Killed / Broken Lullaby» de Ernest Lubitsch (1932), filme que é
plagiado, adulterado, acrescentado por «Frantz» de François Ozon.
De modo hipotético, pois não conheço o filme de Lubitsch,
parece-me «Frantz» uma extraordinária homenagem ao melodrama, ao pacifismo, ao
modo narrativo do mestre.
Tudo se centra do olhar de fragilidade, de constante desejo
da procura mas de suprema sobrevivência entre Anna e Adrien, interpretados pelos
extraordinários actores em contenção e expressividade do sofrimento, Paula Beer
e Pierre Niney.
Tudo se centra, aliás, na culpa desculpada da morte em tempos
de guerra. Nesse modo de dar crédito ao crime por lei mas que ficará para
sempre indelével na alma de quem mata e de quem o desculpa. De quem faz tudo,
até mentir piedosamente, para que o sofrimento não alastre como plâncton podre
à sua volta: os pais de Frantz, alentados no desalento por um novo falso e caridoso,
mas mentiroso, filho, Adrien. Papéis interpretados pelo Marie Gruber e Ernst Stötzner.
Se parece que Lubitsch deixa em suspenso a epígrafe sobre a desculpa
social de matar em batalha que não é cumprida pela eterna culpa vincada na alma
do assassino, Ozon acrescenta a pena que os sobreviventes cumprem até ao fim,
entre a candura das flores depositadas sobre uma campa vazia e a contemplação
obsessiva de um quadro de Èdouard Manet «Le Suicidé» (1877).
Vendo «Frantz» de François Ozon, é difícil não ser tocado
pelo anti-belicismo e pelo libelo sobre a estupidez de matar a juventude numa batalha.
Será igualmente irresistível não ir a correr ver «O Homem que Eu Matei» do inesquecível
Ernst Lubitsch, dando todo o crédito melodramático à sua estética pacifista.
Onde se encontrará a verdadeira razão de uma mentira?
Continuemos a ler João Bénard da Costa!
jef, maio 2018
Sem comentários:
Enviar um comentário