quarta-feira, 2 de maio de 2018

Sobre o livro «Nova Asmática Portuguesa» de Nuno Moura. Mariposa Azual, 2013 (2ª Edição)












Sem saber por que razão, este livro tem vindo a acompanhar-me num certo delírio de leitura. É um livro intrigante porque de cada vez que releio algum dos textos-poema, traz ele um tema diferente. Caleidoscópio, diria o fazedor de ópticas. Metamórfico ou metamorfizado, diriam o geólogo ou o entomólogo, confundindo as palavras e o étimo semelhante, o mesmo significado. Ovídio sabia-o há dois mil e tal anos.
Sempre que pego no livro, sempre o imagino a ser lido em voz alta pelo autor, certamente por já ter tido o privilégio. Nesse momento, a coisa muda de figura. Volto ao início.

Para Nuno Moura, ou melhor, para mim, esta «Nova Asmática Portuguesa» deve ser tomada por «Nova Gramática Portuguesa», por óbvio. Novo dicionário também. Substantiva-se aquilo que se adjectiva, adjectivando o substantivo, apenas para clarificar o sentido e dar uma nova vida a este último. Aqui percebemos que a língua ou o modo como a entendemos e criamos é um ermo sem fim. Por isso, devem ser adicionadas todas as novas palavras que desejarmos.

Em «A Nova Asmática Portuguesa», a semântica como evolução das palavras e do seu significado, ou a sintaxe, como a ordem das palavras num período e num parágrafo, a ordem incerta dos respectivos símbolos, ficam em carne viva ou em barro húmido para que o leitor as trinque ou as molde.

Do sangue ou da argila resultante, poderá este, então, organizar todas as suas histórias possíveis. Histórias informes de riso sanguíneo ao bom estilo ‘John Carpenter’ ou de massa tradicional dos bonecos do presépio comprados na feira da Mercês.

E aos costumes disse N.M. nada!

«anda um noitibó nas suas malzas telhas
luando um porço de fatigo
saco muscular nabo
para o menos que a cabeça vai gruando.»  N.A.P. página 13

jef, abril 2018

(A fotografia é de Anhoa Valle)


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