László Nemes utiliza em «Anoitecer» o
mesmo grau estético de «O Filho de Saúl» (2015). A jovem protagonista Irisz
Leiter (Susanne Wuest) é perseguida de perto, muito perto, pela câmara, e nós,
espectadores, vamos correndo atrás desta. Estamos tão perto dela que tudo surge
desfocado, quase alienado, e as vozes em diálogo tomam a parte de leão da
história.
No início do século XX, a chapeleira Irisz
Leiter regressa a Budapeste para recuperar o passado, a família, o estatuto da famosa
casa de chapéus Leiter, recuperada após um incêndio onde morreram os seus pais.
O que ela busca, afinal, também nós andamos a buscar entre as vozes e o
burburinho cosmopolita da cidade, uma das capitais do Império.
Obviamente, o que o realizador pretende
através da perplexidade, ansiedade e entrega extenuada da actriz Susanne Wuest
é o limiar da convulsão política, social e cultural, que está na origem da I
Grande Guerra. Tudo o que é incompreensível para Irisz Leiter torna-se
incompreensível para nós. A névoa quente que envolve Budapeste e os seus
arredores numa espécie de nevoeiro amarelado nada nos esclarece. Apenas
vislumbramos a premência da revolução, a ânsia juvenil por derrubar uma
aristocracia burguesa e decadente em fim de linha.
O olhar sofrido, embora profundamente
motivado pela curiosidade, da protagonista é, sem dúvida, o melhor do filme,
para além da banda sonora claro! Contudo, o exagero do close-up, da proximidade
da câmara colada à bela nuca da actriz, torna-se um exagero quase entediante.
Valha-nos as peripécias algo rocambolescas da intriga que nos agarram ao inexplicado
e à premência da intriga.
jef, abril 2019
«Anoitecer» (Napszállta) de Laszló
Nemes. Com Susanne Wuest, Vlad Ivanov, Urs Rechn, Juli Jakab,
Evelin Dobos. Hungria /
França, 2018, Cores, 142 min.
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