quarta-feira, 17 de abril de 2019

Sobre o filme «Anoitecer» de Laszló Nemes, 2018















László Nemes utiliza em «Anoitecer» o mesmo grau estético de «O Filho de Saúl» (2015). A jovem protagonista Irisz Leiter (Susanne Wuest) é perseguida de perto, muito perto, pela câmara, e nós, espectadores, vamos correndo atrás desta. Estamos tão perto dela que tudo surge desfocado, quase alienado, e as vozes em diálogo tomam a parte de leão da história.

No início do século XX, a chapeleira Irisz Leiter regressa a Budapeste para recuperar o passado, a família, o estatuto da famosa casa de chapéus Leiter, recuperada após um incêndio onde morreram os seus pais. O que ela busca, afinal, também nós andamos a buscar entre as vozes e o burburinho cosmopolita da cidade, uma das capitais do Império.

Obviamente, o que o realizador pretende através da perplexidade, ansiedade e entrega extenuada da actriz Susanne Wuest é o limiar da convulsão política, social e cultural, que está na origem da I Grande Guerra. Tudo o que é incompreensível para Irisz Leiter torna-se incompreensível para nós. A névoa quente que envolve Budapeste e os seus arredores numa espécie de nevoeiro amarelado nada nos esclarece. Apenas vislumbramos a premência da revolução, a ânsia juvenil por derrubar uma aristocracia burguesa e decadente em fim de linha.

O olhar sofrido, embora profundamente motivado pela curiosidade, da protagonista é, sem dúvida, o melhor do filme, para além da banda sonora claro! Contudo, o exagero do close-up, da proximidade da câmara colada à bela nuca da actriz, torna-se um exagero quase entediante. Valha-nos as peripécias algo rocambolescas da intriga que nos agarram ao inexplicado e à premência da intriga.

jef, abril 2019
                                                                      
«Anoitecer» (Napszállta) de Laszló Nemes. Com Susanne Wuest, Vlad Ivanov, Urs Rechn, Juli Jakab, Evelin Dobos. Hungria / França, 2018, Cores, 142 min.

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