segunda-feira, 8 de abril de 2019

Sobre o filme «Diamantino» de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, 2018

















Existe em «Diamantino» uma tocante e ingénua espontaneidade em desejar fazer comédia com coisas sérias, em mexer em assuntos que, na cultura nacional, diria mesmo na moral nacional, não é muito frequente e até costuma ser olhada com bastante desconfiança, senão atávica repulsa.

Cristiano Ronaldo, a pronúncia madeirense, o vernáculo desabrido, a crise dos refugiados, a clonagem e manipulação genéticas, o populismo de direita, a história de Portugal, o muro entre países, a televisão, o futebol, o amor pelos animaizinhos, a riqueza, a pobreza... Tudo está dentro deste filme de apenas 96 minutos, sem beliscar eticamente os assunto que parodia.

«Diamantino» tem uma grande qualidade. Sabe usar o tempo das cenas rápidas, utiliza-o muito eficazmente, misturando todas as componentes cinematográficas, toda a panóplia digital possível. Chega a ser um pouco alucinante o modo como as diversas cenas surgem aos olhos do espectador, moldadas por uma excepcionalmente bem cuidada banda sonora.

Não interessa se existem duas Anabela / Margarida  Moreiras a fazer das maléficas manas gémeas de Diamantino. Diamantino (Carloto Cotta) é um inocente e terno menino nas mãos de um exército de Maléficas e Cruellas de Vil. Um mundo infantil e crente em coboiadas de ficção científica entregues a um Walt Disney a quem deram um ligeiro ácido ou uma meia linha de cocaína.

Se existem coisas incompreensíveis não há problema, a intenção é que conta.

Não me fez rir mas entreteve!

jef, janeiro 2019

«Diamantino» de Gabriel Abrantes, Daniel Schmidt. Com Carloto Cotta, Cleo Tavares, Anabela Moreira, Margarida Moreira, Carla Maciel, Filipe Vargas, Manuela Moura Guedes, Joana Barrios e Maria Leite. Portugal, 2018, Cores, 96 min.

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