Existe
em «Diamantino» uma tocante e ingénua espontaneidade em desejar fazer comédia
com coisas sérias, em mexer em assuntos que, na cultura nacional, diria mesmo na
moral nacional, não é muito frequente e até costuma ser olhada com bastante
desconfiança, senão atávica repulsa.
Cristiano
Ronaldo, a pronúncia madeirense, o vernáculo desabrido, a crise dos refugiados,
a clonagem e manipulação genéticas, o populismo de direita, a história de
Portugal, o muro entre países, a televisão, o futebol, o amor pelos animaizinhos,
a riqueza, a pobreza... Tudo está dentro deste filme de apenas 96 minutos, sem beliscar
eticamente os assunto que parodia.
«Diamantino»
tem uma grande qualidade. Sabe usar o tempo das cenas rápidas, utiliza-o muito
eficazmente, misturando todas as componentes cinematográficas, toda a panóplia
digital possível. Chega a ser um pouco alucinante o modo como as diversas cenas
surgem aos olhos do espectador, moldadas por uma excepcionalmente bem cuidada
banda sonora.
Não
interessa se existem duas Anabela / Margarida Moreiras a fazer das maléficas manas gémeas de
Diamantino. Diamantino (Carloto Cotta) é um inocente e terno menino nas mãos de
um exército de Maléficas e Cruellas de Vil. Um mundo infantil e crente em
coboiadas de ficção científica entregues a um Walt Disney a quem deram um
ligeiro ácido ou uma meia linha de cocaína.
Se
existem coisas incompreensíveis não há problema, a intenção é que conta.
Não
me fez rir mas entreteve!
jef,
janeiro 2019
«Diamantino»
de Gabriel Abrantes, Daniel Schmidt. Com Carloto Cotta, Cleo Tavares, Anabela
Moreira, Margarida Moreira, Carla Maciel, Filipe Vargas, Manuela Moura Guedes,
Joana Barrios e Maria Leite. Portugal, 2018, Cores, 96 min.
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