quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Sobre o filme «Bostofrio, où le ciel rejoint la terre» de Paulo Carneiro, 2018















Sinceridade, recato e objectividade são os trunfos do primeiro filme de Paulo Carneiro, algo parecido com um documentário, feito por episódios que são entrevistas realizadas aos habitantes de Bostofrio, concelho de Boticas.
Vai em busca da personalidade, do modo e da face do pai de seu pai que não lhe deixou o nome no bilhete de identidade. Pai incógnito.

Sinceridade, pois a primeira personagem é a do próprio "Paulo Carneiro" que se chega com cautela e respeito aos vizinhos e parentes de um homem que já desapareceu e que dele falam com medo ou pudor. "Paulo Carneiro" é a personagem principal.

Recato, pois este filme tem a qualidade de respeitar os silêncios dos falantes, deixando o passado numa espécie de redoma de ausência que não pode ser tocata e, portanto, dela não sairá o tão desejado conhecimento. Daí que jamais se conhecerá o rosto completo do avô através da fotografia colocada na lápide do cemitério. A única fotografia existente que vai sendo mostrada por trechos ampliados, cheios “grão” (ou “pixéis”), nos separadores dos diversos episódios-entrevistas.

Objectividade, porque a história vai sendo construída de modo sólido, não só pela figura carismática e pujante do avô mas, principalmente, pela figura sofrida, acarinhada mas perturbada da avó.

Um belo passo do cinema “realista” português que já contava com Manoel de Oliveira, Fernando Lopes, António Reis e Margarida Cordeiro, Pedro Costa, Manuel Mozos, Miguel Gomes ou Leonor Teles

Como complemento, vê-se a curta «Cinzas e Brasas» de Manuel Mozos baseada numa história “real” de Dulce Maria Cardoso. Contada a dois tempo, num longo arco cronológico. Talvez o filme se perca em tão curto tempo cinematográfico mas encontra-se na esplêndida imagem e na maravilhosa (e eternamente bela) Isabel Ruth.

jef, novembro 2019

«Bostofrio, où le ciel rejoint la terre» de Paulo Carneiro. Argumento: Paulo Carneiro. Fotografia: Pedro Neves. Som: Ricardo Leal. Montagem: André Valentim Almeida, Francisco Moreira, Paulo Carneiro. Produção: Paulo Carneiro, Red Desert. Portugal, 2018, Cores, 70 min.

Em complemento: «Cinzas e Brasas» de Manuel Mozos. Com Isabel Ruth, Gustavo Sumpta, Ana Ribeiro. Segundo ideia de Dulce Maria Cardoso. Portugal, 2015, Cores, 21 min.

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