Este
parece ser um filme (in)comum, filmado a preto e branco numa cidade europeia
fustigada pelo pós-guerra, mostrando a vida difícil dos portos e dos
estivadores quando o marinheiro Gösta (Bengt Eklund) chega a Hamnstad e logo se
confronta com a tentativa de suicídio por afogamento de Berit (Nine-Christine
Jönsson). Duas vidas que se irão cruzar. Gösta toma a própria consciência
como uma prisão, Berit sente o mesmo mas pelo seu passado, cuja presença
permanece no eterno ricto odioso de sua mãe (Berta Hall). Se as personagens
rodam abertas e musicais em torno do primeiro, outras surgem como sinais de
agoiro que devem ser afastados em volta de Berit. Contudo, o encontro do casal
com Gertrud (Mimi Nelson), uma amiga de Berit ex-colega de reformatório, vem
colocar visível a consciência de um e o passado de outro. Aliás, Gertrud é o
catalisador do drama e é através dela que o lado, digamos, interior da cidade se
desvendará.
Seria
um filme (in)comum não fosse ele filmado por Bergman, deslumbrado com o
neorrealismo italiano das cidades, das docas e das fábricas, das ruas e dos bailes.
Mas tombando sempre para a proximidade dos rostos, para o magnífico enquadramento das cenas no interior dos quartos e das salas, das escadas e das traseiras
enclausuradas dos prédios, como claustros. Tudo fotografado de modo sublime por Gunnar Fischer.
E
se todos os filmes fossem tão (in)comuns como aqueles filmados por Bergman?
jef,
setembro 2024
«Cidade
Portuária» (Hamnstad) de Ingmar Bergman. Com Nine-Christine Jonsson, Bengt
Eklund, Berta Hall, Erik Hell, Mimi Nelson, Birgitta Valberg, Sif Ruud, Britta
Billsten, Harry Ahlin, Nils Hallberg, Sven-Eric Gamble, Yngve Nordwall, Nils
Dahlgren, Hans Strååt, Erik Hell. Argumento: Olle Lansberg e Ingmar Bergman,
baseado no romance de Olle Lansberg “O Ouro e os Muros”. Produção: Harald Molander. Fotografia: Gunnar
Fischer. Música: Erland von Koch. Suécia, 1948, P /B, 99 min.
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