quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Sobre o filme «Mulheres Que Esperam» de Ingmar Bergman, 1952


























Numa casa de férias junto a um lago, quatro mulheres aguardam a chegada dos maridos que regressarão mais tarde da cidade. Uma outra, jovem e irmã de uma delas, escuta-as.

São contadas histórias. Não serão tanto segredos ou confidências já que todas elas se conhecem bem, estão unidas e partilham o confortabilíssimo estatuto social e económico da família Lobelius. São contados cinco episódios que aos poucos, familiarmente, se cruzam e que vão deixando uma marca inesquecível na memória dos amantes de cinema e, em especial, dos do génio de Ingmar Bergman.

Pelos vistos, também terá deixado marca forte na censura do tempo da outra senhora. E, digamos, que até se compreende a razão. O filme foi apenas visto publicamente em Portugal em 1989, 37 anos depois da estreia.

Pois se todas aquelas mulheres se acomodam ao conforto da poltrona Lobelius, também todas rejeitaram submeter-se ao percurso linear que a tal sociedade lhes exigiria.

É um filme de uma sensualidade tão exuberante, de uma beleza gráfica quase expressionista e tão pouco heterodoxa, relativamente ao padrão do “delicodoce” fascismo português, que é com sarcasmo que pensamos na visualização desta espécie de comédia burguesa (mascarada de tragédia) pelo lápis azul dos censores, velhos amantes de «O Pai Tirano» (António Lopes Ribeiro, 1941) ou «O Pátio das Cantigas» (Francisco Ribeiro 1942).

E todas as cinco histórias têm um pano de fundo estético e emocional oposto ao anterior.

Todas elas surgem inicialmente como trágicas consequências de uma desilusão ou mesmo de um acto falhado, porém sempre existe um facto ou uma frase anti-climax que faz virar do avesso o suposto caminho mais dramático.

Mas nem todas… Existe uma história que é ostensivamente ocultada pela protagonista. Por fim, uma penúltima delirante e enclausurada comédia de elevador à Howard Hawks ou Billy Wilder.

Finalmente, os amantes fogem de barco e alguém diz, do exterior e altivo: «Deixa-os convencidos que estão a fazer algo proibido. Deixa-os até que o verão passe.»

Um filme único, imprescindível, deslumbrante.

Filme-catálogo Ingmar Bergman.


jef, setembro 2024

 

«Mulheres Que Esperam» (Kvinnors väntan) de Ingmar Bergman. Com Anita Björk, Maj-Britt Nilsson, Eva Dahlbeck, Gunnar Björnstrand, Birger Malmsten, Karl-Arne Holmsten, Jarl Kulle, Aina Taube, Håkan Westergren, Gerd Andersson, Björn Bjelfvenstam, Märta Arbin, Torsten Lilliecrona, Victor Wifstrand, Wiktor Andersson, Douglas Häge, Lil Yunkers, Lena Brogen, Ingmar Bergman. Argumento: Ingmar Bergman segundo a história de Gun Grut. Produção: Allan Ekelund. Fotografia: Gunnar Fischer. Música: Erik Nordgren. Suécia, 1952, P /B, 107 min.

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