Uma
espécie de testamento ou testemunho de Francis Ford Coppola. A ele tudo é
devido, tudo é desculpado, principalmente no interior de uma América que pode
estar prestes a eleger pela segunda vez o King Kong para presidente. Pobre
analogia, pobre King Kong cinematográfico, afinal tão amoroso!
Este
filme parece uma torrente demencial sobre uma estrutura social, política,
económica, ecológica e emocional prestes a ruir, sobre o decadente mundo moral que
nos habituámos a ver como humanidade cirandando sobre o planeta Terra. Contudo o mundo do
cinema continua a mostrar a sua faceta ecuménica mostrando-se real face à barbárie.
Como se Frank Capra ou Billy Wilder tivessem desvairado e resolvessem realizar
uma alta comédia triste e estrambólica para Selznick, misturando «Metrópolis»
(Fritz Lang, 1927), «Ben Hur» (William Wyler, 1959) com as Ziegfeld Follies (mas
sem danças ou cantorias). Tudo rápido, diabolicamente rápido, entre a intriga policial,
o conflito histórico, o suborno familiar e o amor que, afinal, sempre poderá
salvar-nos do apocalipse final.
O
meu problema é que já guardo no interior o «Apocalipse Now» (1979) e «Do Fundo
do Coração» (1981) e a presente profusão digital nos cenários futuristas toldou
a minha percepção onírica, o meu entusiasmo abstracto porque teatral, o meu
puro deslumbramento. Mas, obviamente, a Coppola tudo se desculpa.
Contudo,
poderemos nós continuar a desculpar o descalabro a que a América parece vir a
enterrar-se no dia 5 de Novembro de 2024?
jef, outubro 2024
«Megalopolis»
de Francis Ford Coppola. Com Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel,
Aubrey Plaza, Shia LaBeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, Talia Shire, Jason
Schwartzman, Kathryn Hunter, Grace VanderWaal, Chloe Fineman, James Remar, D.B.
Sweeney, Isabelle Kusman, Bailey Coppola. Argumento: Francis Ford Coppola. Produção: Michael Bederman, Francis Ford
Coppola, Fred Roos. Fotografia: Mihai Malaimare Jr.. Música: Osvaldo Golijov. Guarda-roupa:
Milena Canonero. EUA, 2024, Cores, 138 min.
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