Há muito que andava sem escutar jazz.
O Sexteto de Jazz de Lisboa oferece-me um concerto comemorativo
dos 40 anos da sua formação, com a sala do Tivoli cheia. Existe qualquer coisa
de jovial, de cumplicidade, de brincadeira, quase infantil, no modo como este sexteto
vai passando de tema para tema. E dentro de cada um deles, como os músicos passam o
testemunho como se se tratasse de cerimoniosa dádiva cúmplice,
familiar. Movem-se como se estivessem mergulhados num amável espaço aquático.
Os temas oferecidos vêm ainda de um primeiro álbum gravado em 1988, «Ao
Encontro», quatro anos após a sua formação.
Ao terceiro tema, mergulhava inteiro nesse meio aquoso do
jazz. Apetecia-me chamar-lhe “música clássica” mas poderia ser mal
interpretado. Tentava encontrar um padrão para os ouvidos da minha memória –
blues, bebop, swing, ecm –, a minha memória percorria as prateleiras do jazz,
tentava, viciada, encontrar um escaninho para colocar os temas imaginados por Tomás
Pimentel ou Mário Laginha. Contudo, havia uma formulação melódica envolvendo sempre
um requebro quase de canção de embalar, quase de movimento de salão de baile. Seria
isso que, enfim, eu chamaria “jazz clássico”, ou melhor, o “meu” jazz
clássico. Mas, afinal, o jazz não se submete a escaninhos ou escantilhões. É
ele propriamente dito, ou propriamente tocado. Ponto final.
Uma noite que me trouxe, com alegria e carinho, o jazz de
volta ao meu contínuo sistema musical.
Parabéns pelos 40 anos do Sexteto de Jazz de Lisboa. Aguardo
com benévola ansiedade o novo disco.
Sexteto de Jazz de Lisboa – Mário Laginha (piano), Mário Barreiros (bateria), Tomás Pimentel (trompete), Edgar Caramelo (saxofone), Ricardo Toscano (saxofone), Francisco Brito (contrabaixo)
Tivoli, 22 de Setembro de 2025
jef, setembro 2025
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