Em 1962, Augusto Abelaira publicou uma peça de teatro política sobre a
possibilidade de sermos felizes apesar da infelicidade alheia. Sermos ainda
felizes mesmo após todas as guerras e mortes que existiram e existem sobre o
mundo.
No século XXIII, ricos diletantes viajam pelo futuro e pelo
passado a seu belo prazer apenas por hedonismo. A revolução francesa, a guerra
de Troia. Como visitar o passado sem o beliscar, para que a nossa felicidade não
seja comprometida? E se os troianos vencessem os gregos? Que seria dos descendentes de Heitor ou de Ulisses? Ou seja, pelo que Pascal diz “Se o nariz de Cleópatra tivesse sido
mais pequeno, toda a face da terra teria mudado”.
Uma nave espacial, um campo de pré-batalha, Ulisses perdido,
Andrómaca desesperada. Um vendedor de óculos que trocam simplesmente o errado pelo
certo, um coelho saído da cartola, uma noiva com dois maridos, todos a um passo
da felicidade, uma professora que coloca os pontos nos is errados, uma
comandante que não pugna pela justiça. Um facto é que os felizes até podem
vencer, momentaneamente, porém os infelizes são muitos mais e um dia até podem revoltar-se. Afinal, estão todos mortos. Na realidade, estamos todos mortos!
Teatro Variedades, 28 de Setembro de 2025
«O Nariz de Cleópatra, pois claro!» a partir de «O Nariz de Cleópatra» de Augusto Abelaira. Versão cénica e direção de Cristina Carvalhal. Com Alberto Magassela (Ulisses), Ana Sampaio e Maia (Calipso), Carla Maciel (Andrómaca), Heitor Lourenço (Mário, marido de Calipso), João Grosso (vendedor de Felicidade e Coelho), José Neves (Heitor, Paris, General Francês), Manuela Couto (Professora), Nuno Nunes (Pretendente de Calipso), Sílvia Filipe (Comandante). cenário e figurinos: Nuno Carinhas. Luz Manuel Abrantes. Som Sérgio Delgado. Luz: Ana Carocinho. Produção Causas Comuns / Teatro Nacional D. Maria II. Duração: 2h.
Sem comentários:
Enviar um comentário