terça-feira, 28 de junho de 2016

Sobre o filme «Adeus a Matiora» de Elem Klimov, 1983

















«Adeus a Matiora», realizado por Elem Klimov sobre a ideia de Larisa Shepitko, sua mulher (falecida num acidente de viação), afasta-se de Tchekov e aproxima-se de Shakespeare. Violentamente.
É um filme sobre a mortalha e o remorso que sobre ela recai.
Sobre a morte e os fantasmas perseguidores que vai deixando para trás.
Sobre a culpa e o medo de não sobreviver à memória. A verdade é a memória, diz-se.
Sobre o sacrifício de uma Aldeia submersa pelas águas de uma barragem; a defesa de um carvalho secular imolado pelo fogo; a salvação das campas dos antigos, dos samovares, das reses, das batatas, do musgo.
Sobre a mulher e a água, a terra, o fogo, as cinzas.
Sobre a Mãe, ícone russo e universal, ser material e etéreo. Sobre a Mãe-Terra querida. Aqui, ela é Daria que, escondida, reza por uma terra defunta, enquanto os aldeãos dançam loucos com os camaradas que chegaram para ajudar a ceifar o derradeiro feno.
O centro é a belíssima, a magnífica Daria. Sublime interpretação de Stefaniya Stanyuta que, em cena inesquecível, lava os restos mortais de sua casa.
Um requiem sobre o que nós fizemos perder, em consciência, e que não voltará mais. Shakespeare fala da culpa e do remorso. Klimov, de arrependimento e do grito desesperado de quem se perdeu definitivamente nas águas e no nevoeiro.
Grandioso filme!

jef, junho 2016


«Adeus a Matiora» (Proshchanie) de Elem Klimov. Com Stefaniya Stanyuta, Aleskei Petrenko, Lewonid Kryuk. URSS, 1983, Cores, 112 min.

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