quarta-feira, 1 de junho de 2016

Sobre o filme «O Homem da Câmara de Filmar» de Dziga Vertov, 1929















A perfeita máquina da humanidade e o seu desejo do futuro.
O que pretendia o músico futurista Dziga Vertov com as suas experiências no «Laboratório do Ouvido»? O que pretendia ele com a vanguarda do «Cinema-Olho»? Escutar e filmar a realidade sem guião, actores, preparação de cena. Imiscuir-se dentro da verdade desvendando-lhe o senso e o seu mais íntimo desejo de futuro. Nada mais do que a máquina, o homem, a mulher, o trabalho, o movimento, o riso, a multidão, o lazer….
Mas como fazê-lo com uma câmara pesada, de presença inquestionável, e uma necessidade brutal de iluminação?
Simplesmente entrar para dentro do filme assumindo o duplo protagonismo das câmaras em contracampo (juntamente com o seu irmão Kaufmann).
Olhar sobre a verdade da câmara e do seu operador torna-se o motivo central e quase surrealista deste modo de filmar.
A cidade e o seu mundo gigante contemplam quem os venera, anulando-se perante a própria imagem. 
Todos gostam de se ver ao espelho, tirar auto-retratos (selfies), criar a sua própria máscara. Quase toda a urbe sorri para a câmara.
O maravilhoso fica suspenso na impressionante jóia que é a montagem desta inqualificável peça de liberdade de acção.
Um filme que nos reconcilia com a Humanidade, com a sua, ainda possível, harmonia. Com a sua ficção!

jef, junho 2016

Vertov, Dziga «O Homem da Câmara de Filmar» (Chelovek K Kino-Apparatom). 1929, P/B, 68 min.

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