Há
discos assim.
Lá
pela década de 60 do século passado, Taj Mahal e Ry Cooder andaram pelos
«Rising Sons» e a partir dali (ou mesmo antes) foram reconstruindo um mundo
único, lógico, sólido, criativo, repleto das diversas caras que a música popular
da América (e também a música popular de todo o mundo) forneceu à fantasia universal
do blues, da folk, da country, da texmex, do rhythm’ blues e por aí fora…
São
sete décadas condensadas em onze canções livres, absolutamente livres,
registadas em som directo, onde Taj Mahal (80 anos) e Ry Cooder (75 anos) –
acompanhados pela percussão e baixo de Joachim Cooder – dão largas ao improviso
sincero e leal, às ganas da alegria sentida por tantos anos de cumplicidade e
busca das razões, talvez inexistentes, da música popular.
Ou
me engano muito ou o meu fascínio por esta música, tão simples, cantarolável, dançável, talvez mesmo infantil, vem do génio com que lhe colocam todas as possíveis variações em cada
acorde. Talvez um pouco como acontece na erudição da música barroca que vive
tanto da linha melódica de base, como dos arpejos, codas e fugas com que depois
a alindam. Por isso, gosto tanto de blues
como de Bach.
Diz
Ry Cooder que ficou fascinado pelos mistérios e possibilidades ouvidos num LP
10’’ aos 12 anos: «Get On Board: Negro Folksongs by the Folk Masters»
com as canções de Sonny Terry, Brownie McGhee e Coyal McMahan. Inventivo,
encriptado, movediço, livre, irreverente e, por tudo isto, tão futurista.
Diz
Taj Mahal: «Brownie McGhee & Sonny Terry, Rev. Gary
Davis! Um trio de Blues Rascals
(blues “patifes”) – se tal coisa alguma vez existiu –, no ombro do qual agora
nós nos apoiámos e construímos.»
Ouvindo
bem, é tão maravilhosa a música da América!
jef,
maio 2022
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