Este
conto (ou fábula ou parábola) apresenta, talvez, um das mais complexas personagens
femininas de Éric Rohmer: Félicie (interpretada por uma mesmo genial
Charlotte Véry) que vive sem amargura para um amor passado, fixado na memória
pela crença na reminiscência de um Verão encantado, e por isso eternamente
juvenil e amoroso. Como âncora e produto real dessa recordação mágica, Félicie
tem a seu cargo, amoroso e genético, Elise (Ava Loraschi), uma menina de cinco
anos, com a qual vive em casa de sua mãe (Christiane Desbois). Mas a absoluta
crença no porvir não lhe permite ligar-se em definitivo ao bibliotecário
filósofo Loïc (Hervé Furic) ou ao cabeleireiro Maxence (Michel Voletti) que a amam verdadeiramente. Para
ela, é tudo uma questão de tempo. Um tempo credor do próprio tempo, compensador,
salvador, que faz Félicie emocionar-se até às lágrimas quando assiste à
representação de «Conto de Inverno» de Shakespeare, também ele credor da eterna
esperança num futuro alicerçado na vontade férrea do passado.
Sim,
«Conto de Inverno» de Éric Rohmer é um filme mágico, terno e muito simples. Tão
simples quanto seja acreditarmos todos os dias num futuro bom.
jef, maio 2022
«Conto
de Inverno» (Conte d’Hiver) de Éric Rohmer. Com Charlotte Véry, Frédéric Van
Den Driessche, Michel Voletti, Hervé Furic, Ava Loraschi, Christiane Desbois, Rosette,
Jean-Luc Revol, Haydée Caillot, Jean-Claude Biette, Marie Rivière. Argumento:
Éric
Rohmer. Produção: Margaret Ménégoz. Fotografia: Luc Pagès. Música: Sébastien
Erms. França, 1992, Cores, 114 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário