O erotismo (e a pornografia) é, desde sempre, a expressão
única da humanidade do que é, por natureza, o lugar mais privado (para não
dizer íntimo) do homem e da mulher. Esse lugar abstracto que se constrói quando
está a sós com o seu corpo ou quando está acompanhado e explora o corpo de outrem
com o seu próprio corpo. Uma expressão provocatória ou de contravenção face à
natureza desses actos, digamos, dérmicos. Uma rebelião contra ainda alguma
sociedade moral e religiosa. Um modo claro, literário ou gráfico, de extravasar,
prolongar, comungar, tornar perene, o prazer sexual que, se é constituído por
preliminares, também, para males dos seus pecados, incorpora o irrevogável fim!
Mas representar a pele dos amantes em tom cor-de-rosa bebé e
o seu corpo entre amáveis contornos rechonchudos, retira absolutamente a carga
erótica à pulsão sexual do grafismo. É esta a maior provocação que André Ruivo
faz não ao erotismo mas ao mais alto estatuto que a sociedade ocidental confere
hoje à banalização da sua representação.
Esqueçamos os lençóis de cetim ou os colchões de água.
Esqueçam o mestre Vilhena. Nada disso! André Ruivo deposita a sua incontornável
tendência para a amabilidade das personagens nestes desenhos, acarinhando-as em
lençóis ternurentos e mesmo muito cómicos.
Tal como em Quino, Sempé ou Luís Afonso, as figuras de André
Ruivo fazem parte de um bairro onde as criaturas, cerimoniosamente, dirão sempre
“Olá! Boa noite! Como está?» antes de praticarem qualquer acto, sexual ou de
outra natureza.
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