A
cidade de Ry Cooder é uma cidade gigante, bela e consciente, embora agreste e
solitária. Deus paira sobre as ruas, apela à oração mas segue em frente. Anda
muito ocupado ou aguarda por uma esmola ou gorjeta para revelar ao filho pródigo
a verdadeira dimensão da sua busca eterna. A verdadeira religião está na resignação,
na aquietação de quem espera e espera e, devotamente, vai entristecendo.
A
enorme cidade é para os penitentes.
Ry
Cooder sabe que a América também é enorme e bela, e toda ela cabe na
consciência magoada das suas canções universais. Tão simples, tão complexas,
tão populares e eruditas. As suas guitarras, bandolins e banjos gemem ou choram
ou bradam esse inesquecível blues-folk-gospel. Inesquecível e viciante.
Amável,
provocador, político, contemporâneo!
Por
isso, a América é uma grande capital. Por isso, Ry Cooder é um grande músico,
de consciência e coração maiores.
Por
isso, coleciono-lhe os discos.
E a terceira faixa (Ry Cooder / Joachim Cooder) “Gentrification” assim dita:
standing on the corner, spending my time
out of a job, not earning a dime
lady steps up, says i suppose
you're a stylish young man by the looks of
your clothes
she said trust me and take a little tip
this building's been sold to Johnny Depp
take the buyout, relocate
the Googlemen are coming downtown, so
don't be late
i said this is my apartment just a hole in
the wall
got to sleep in the kitchen with your
feets in the hall
no hot water, no windows na’ do's
Got to make it past all the real estate
agents, junkies, and ho's
i live in the heart of the city, ain't no
coffee shops around
i heard the Googlemen drink so much
coffee, I think they might drown
gentrification is here, one thing i know
you can't stand pat, I declare you got to
step it up and go
gentrification is here, sho' is worryin'
my mind
can't understand why an uptown Googleman
wants
a downtown room like mine
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