Se existe livro que, sem rodriguinhos, elucide, sublinhe e consagre
o poder maternal da mulher, é este!
Um livro que se dedica à mulher como símbolo central da
família e da sociedade, sem necessitar de chamar à liça o Rei Édipo e o seu
comandante em chefe, Sigmund Freud. Porém, eles lá estão, pois Elizabeth Blaney
não é olhada por si própria mas como reflexo substancial e através do percurso doméstico
das três personagens da sua vida.
Bunny (Peter), Robert e James Morison, olham-na através do cheiro,
das cores, das conversas cruzadas, dos subentendidos, da luz que entra sub-reptícia
pelas janelas das casas onde estão a morar. Bunny brinca com uma boneca; Robert
com os soldadinhos de chumbo; para James os filhos são praticamente carinhosos
desconhecidos que implicam frequentemente um com o outro.
Novembro de 1918. Armistício e a guerra acaba. Mas a gripe
espanhola avança. Elizabeth não pode entrar no quarto de Bunny. Está grávida. As
escolas fecham em Logan, Illinois, apesar do vírus ainda não ter chegado lá. Os
comboios circulam cheios de gente. É preciso ter cuidado.
A história é contada em três capítulos sequenciais dedicados
aos três personagens masculinos que têm por centro essa mater et magister. Tudo circula e circulará em seu redor.
Um pouco como acontece em «O Som e a Fúria» de William
Faulkner, as falas não são as da personagem central mas sim a da luz, dos
objectos, dos actos que a estão a definir e caracterizar. Apesar de Elizabeth
se manter permanentemente na sombra diegética, é o símbolo familiar e o
antídoto para a constante ameaça de desequilíbrio.
Um romance muito bem arquitectado, sensível, requintado e
sintéctico, mesmo muito teatral, sobre a beleza superior do Amor.
jef, abril 2022
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