Os textos que integram esta colectânea são extraídos de «Short
Stories» e «The Long Valley» (1938) e bem representam a capacidade do autor em ultrapassar o dogma interior do escritor para ir encontrar a humanidade que
envolve o mundo inteiro. Aqui, na sua maior parte, reflectida no espelho de
Monterey, Salinas, Califórnia, Estados Unidos da América.
E se toda a literatura não trata mais do que a solidão, John
Steinbeck, nestes oito contos, é o seu padrinho, o tal reflexo humano que tende
a caminhar só para só chegar.
Ou talvez nem tanto. «De como Edith McGillcuddy conheceu R.L.
Stevenson» é um conto único, de um humor extraordinário, quase extravagante,
para quem lê esse escritor que sempre tendeu para a etimologia do trabalho ou o
princípio do sacrifício encrostada na alma do mais pobre. Ou mesmo o breve
apontamento, maravilhoso, que surgirá mais tarde em «As Vinhas da
Ira» (1939), a comunhão de um pequeno-almoço ao crepúsculo, entre desconhecidos,
enquanto a criança mama no seio da cozinheira.
Nada mais fulcral que o encontro clandestino e nocturno dos
dois sindicalistas que temem a polícia mas muito mais a chegada dos ferozes
lacaios amarelos pagos para agredir e desmobilizar, «A Rusga», lembrando «A
Condição Humana» de André Malraux. Ou a tremenda história do linchamento em «O
Vigilante», que poderia vir acompanhada pela canção de Billie Holiday «Strange
Fruit».
Ou ainda o perfeito entendimento da condição feminina e da
sua interior volição em «O Assassinato» ou no comoventíssimo conto final «Os
Crisântemos». Como a suprema identidade da mulher na sua intimidade pode ter descrição.
John Steinbeck foi prémio Nobel em 1962, da literatura. Mas
poderia bem sê-lo da humanidade. Um palavra que talvez valha mais como partícula adjectivante do como substantivo próprio.
jef, abril 2022
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