Onde se prova que a
proximidade da câmara sobre a expressividade dos actores (em especial das
actrizes) não é tudo no cinema. Também é prova de que também não é suficiente a beleza
de Henriette Confurius, que representa Mara, aquela que fica na velha casa, ou a fotogenia de Liliane Amuat, que representa Lisa, a que abandona a casa
e Mara (e a aranha) para ir viver com o namorado Markus (Ivan Georgiev). Tudo
entre o exíguo centímetro quadrado de uma ombreira, de uma porta, de um
corredor que alberga o cão e gato dos vizinhos, os miúdos barulhentos, a
vigilância de uma mãe silenciosa, Astrid (Ursina Lardi), o trabalho dos
operários e o do martelo pneumático, lá fora. Também não é
suficiente a bela valsa Philipp Moll ou a fábula de uma desaparecida pianista
que terá embarcado num navio de cruzeiro como criada de quarto. Fantasmagóricos,
o piano e a solidão ficam para trás, com Mara, a abandonada. Para recordação resta-lhe
o herpes labial e o pudor da aranha doméstica. Esta como símbolo da
casa-exílio.
Tudo milimetricamente
encenado entre esquinas e caixotes, silêncios e desconfianças, numa repetição
de gestos que só é desconhecida para quem nunca fez uma mudança.
Porém, toda a encenação e a
troca de gestos e o simbolismo soam a pouco como dramaturgia de um amor de Verão em fim-de-estação. Soam mesmo um tanto enfadonhos.
Fica a tarefa
árdua dos actores que a suportam sem pestanejar, num admirável tour de force dramático.
Ah! E também levamos na
memória a tal valsa…
jef, março 2022
«A Rapariga e a Aranha» (Das
Mädchen und die Spinne) de Ramon & Silvan Zürcher. Com Henriette
Confurius, Liliane Amuat, Urina Lardi, Flurin Giger, André Hennicke, Ivan
Georgiev, Dagna Litzenberger-Vinet, Lea Draeger, Sabine Timoteo, Birte Schnöink.
Argumento: Apichatpong Weerasethakul. Produção: Adrian Blaser, Aline
Schmid, Ramon Zürcher e Silvan Zürcher. Fotografia: Alexander Haßkerl. Música: Philipp
Moll. Suiça, 2021, Cores, 98 min.
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