segunda-feira, 14 de março de 2022

Sobre o filme «Um Herói» de Asghar Farhadi, 2021




















Se existe uma definição crua para o adjectivo “kafkiano” ou “nó górdio” é precisamente este filme. Porém, apesar da intriga se situar bem no meio na sociedade iraniana, com as suas características, virtudes e idiossincrasias, a personagem de Rahim (Amir Jadidi) representa bem a realidade da vítima, em qualquer latitude, obrigada a lidar com o azar, o remedeio, o julgamento apressado, a decisão irremediável, o erro, o preconceito, o mal-entendido, a imposição cega da sociedade.

E o realizador é magnífico a deixar o espectador em palpos de aranha, a correr atrás da história e dos passos apressados de Rahim, em colocar nas nossas mãos (e olhos conscientes) a ansiedade e o desgosto dos tropeções sucessivos ou becos sem saída determinados por cada um desses passos dados por Rahim.

Um argumento como de um filme policial onde todos são inocentes (excepto aquela que faz desaparecer as moedas de ouro sem deixar rasto). Um libelo a favor da resistência e da desculpa mas, também, da resignação perante o irremediável.

O realismo de Vittorio De Sica ou John Steinbeck, por certo, aplaudiria o infortúnio e a força de Rahim.


jef, março 2022

«Um Herói» (Ghahreman) de Asghar Farhadi. Com Amir Jadidi, Fereshteh Sadrorafaii, Sarina Farhadi, Sahar Goldust, Mohsen Tanabandeh, Fereshteh Sadre Orafaiy, Ehsan Goodarzi, Maryam Shahdaei, Alireza Jahandideh, Farrokh Nourbakht, Mohammad Aghebati, Saleh Karimaei, Ali Ranjbari. Argumento: Asghar Farhadi. Produção: Asghar Farhadi e Alexandre Mallet-Guy. Fotografia: Ali Ghazi e Arash Ramezani. França, Irão, 2021, Cores, 127 min.

 

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