Se existe uma definição crua
para o adjectivo “kafkiano” ou “nó górdio” é precisamente este filme. Porém,
apesar da intriga se situar bem no meio na sociedade iraniana, com as suas
características, virtudes e idiossincrasias, a personagem de Rahim (Amir Jadidi)
representa bem a realidade da vítima, em qualquer latitude, obrigada a lidar com o azar, o
remedeio, o julgamento apressado, a decisão irremediável, o erro, o
preconceito, o mal-entendido, a imposição cega da sociedade.
E o realizador é
magnífico a deixar o espectador em palpos de aranha, a correr atrás da
história e dos passos apressados de Rahim, em colocar nas nossas mãos (e olhos
conscientes) a ansiedade e o desgosto dos tropeções sucessivos ou becos sem
saída determinados por cada um desses passos dados por Rahim.
Um argumento como de um filme
policial onde todos são inocentes (excepto aquela que faz desaparecer as moedas
de ouro sem deixar rasto). Um libelo a favor da resistência e da desculpa mas,
também, da resignação perante o irremediável.
O realismo de Vittorio De Sica ou John
Steinbeck, por certo, aplaudiria o infortúnio e a força de Rahim.
jef, março 2022
«Um Herói» (Ghahreman)
de
Asghar Farhadi. Com Amir Jadidi, Fereshteh Sadrorafaii, Sarina Farhadi, Sahar
Goldust, Mohsen Tanabandeh, Fereshteh Sadre Orafaiy, Ehsan Goodarzi, Maryam
Shahdaei, Alireza Jahandideh, Farrokh Nourbakht, Mohammad Aghebati, Saleh
Karimaei, Ali Ranjbari. Argumento: Asghar Farhadi. Produção: Asghar
Farhadi e Alexandre Mallet-Guy. Fotografia: Ali Ghazi e Arash Ramezani. França,
Irão, 2021, Cores, 127 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário