sexta-feira, 11 de março de 2022

Sobre o livro «Um Homem na Lua» de Edgar Allan Poe, Inquérito, 1943. Tradução Domingos Monteiro.


 









Edgar Allan Poe é muito mais do que «O Gato Preto» ou «As Caves do Amontillado». É uma misteriosa persona literária que nos coloca na fímbria da razão fantástica, nesse mundo meio-aquático meio-onírico onde a vida e a morte são irmãs e a percepção vital é realizada sobre as estruturas da consciência e da vontade, ou movida entre a vida orgânica e a vida espiritual ou ideológica.

De uma forma quase humorística aqui se sublinha o dito que um homem só morre porque vai perdendo a vontade de viver. Assim são substanciadas as personagens femininas, superiores e omniscientes, de «Morella» e «Ligeia». De tanto saberem, de tanto quererem viver, de tanto serem amadas, elas sempre regressarão.

Assim também é Hans Pfall, constructor de foles, que foge de Roterdão até à Lua, num balão por ele construído, mandando mais tarde um emissário, vivente no satélite, com uma carta, para que todos conheçam a história de tão realista viagem. Ou ainda a viagem tenebrosa dentro do cone do vórtice marítimo “Moskoe-Storm”, ao largo da costa norueguesa. Ou as viagens assombrosas de Augusto Bedloe.

Assim serão igualmente as consequências provocadas pelas experiências magnéticas e hipnóticas realizadas sobre o senhor Vankirk ou o senhor Valdemar.

Em Edgar Allan Poe nada parece sobrenatural. Tudo está assente numa linguagem terrena, onde a natureza geográfica da Terra molda a natureza humana e lhe transmite a sua maravilhosa tendência para a fantasia, para a criatividade científica, para o lado tão profundamente psicológico, quase hipnótico, que é a superior abstracção literária.


jef, março 2022

 

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