Existe neste livro bilingue uma certeza: os desenhos de
Alexandra Ramires são tão importantes quanto as palavras de Regina Guimarães.
Estão tão intrinsecamente ligados, uns e as outras, como a realidade crua será
sempre construída a poder de carne e osso.
Um ermo ou descampado. Um charco alegre. Uma
varejeira a ligá-los.
De um lado, o senhor Ele, do outro, a menina Ela. Um
corpo-fato de cabeça minúscula. Uma cabeça-gigante que procura um porto seguro.
Deambulam por um lugar de ninguém.
O bicho Cão não resiste e oferecerá o fémur por flauta mas
são as suas vértebras que reverberam notas harmoniosas.
A cabeça minúscula do senhor Ele procura a cabeça de cabelos longos da menina Ela. Ele tocará. Ela soprará. A melodia encherá o ermo de majestade e o descampado de singularidade. Como um sonho filmado dentro de um mundo de máscaras e sons.
«Um ermo é, ao que dizem, um lugar onde ninguém encontra ninguém.
Ou melhor, um sítio que é só sítio.
Um espaço bravio de passeio e pensamento no entanto.
E portanto.»
jef, março 2022
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