Sempre gostei de colectâneas musicais. Coleccionava-as. Finais de milénio. Inícios do próximo. Dançável electrónica
europeia, universal, única. De leste a oeste, com o centro na germânica Viena,
continentes à parte. Ninja Tune, DJ Kicks, Doctor Rockit, The Rebirth of Cool, Eighteenth Street Loung, Cup of
Tea Records, Listening Pearls, G-Stone. E por aí fora…
Agora tenho uma
pérola na mão, nacional, que me faz sorrir e agitar de novo as células. Sem prazo nem
bula. Uma edição comemorativa da Fonoteca Municipal de Lisboa, 2005, talvez a
primeira, talvez a única. Esta com a electrónica de Armando Teixeira no centro.
O disco-objecto, obra colectiva: a capa de António Jorge Gonçalves e o design
de Paulo Romão Brás. Os temas vindos das homenagens a Carlos Paredes e Rui
Reininho, do espectáculo de António Jorge Gonçalves e Nuno Artur Silva, da peça
da Companhia de Teatro de Braga…
Um percurso não tão
aleatório como poderíamos esperar. Do mais dançável, lúdico ou infantil para a
densidade do sonho adormecido ou do pesadelo acordado e citadino. Do mais
risonho para o mais longo e abstracto. Da pop para a mais erudita, concreta, improvisada,
finamente recortada na geometria do silêncio. Afinal, «O que é o desejo?»
(faixa 12 12’36”).
Um sério e actual divertimento sem nostálgicas peias.
jef, março 2022
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