Talvez
o «Conto de Verão» traduza de modo mais simples a essência de Rohmer. Talvez vá ao osso
dessa muito própria sabedoria cinematográfica ao narrar histórias que quase nem
histórias seriam, fornecendo-lhes a profundidade literária e, deste modo, conferindo ao tempo efémero, digamos esquecível, um prazo sem fim.
No
fundo, com Rohmer, entretemo-nos, divertimo-nos com todos os diálogos finos e
truques delicados que fazem de banais férias de Verão na Bretanha esses momentos universais
que não nos saem da memória, por mais que nos esforcemos. Passado tão simples, tão
belo, tão puro. A sua inteligência reside em revelar a nostalgia como matéria estruturante para a confirmação do tempo que virá.
Gaspard
(Melvil Poupaud) desembarca numa das praias da Bretanha com uma guitarra na
mão, empenhado em isolar-se para compor uma canção de marinheiros. Aguarda, no
entanto, a chegada da volúvel namorada Léna (Aurelia Nolin) que partiu para Espanha de
férias com a irmã. Gaspard encontra Margot (Amanda Langlet), a trabalhar
num biscate de Verão na creperia da tia, e tornam-se amigos, mesmo mais do que
confidentes. Certa noite, encontra a fogosa Solène (Gwenaëlle Simon) numa boite
que tão bem saberá cantar a sua canção de marinheiros. Gaspard não se decide
pois encontra nas três raparigas características complementares e extraordinárias.
E principalmente, Gaspard está de férias.
Rohmer
sabe como ninguém colocar o quotidiano das praias e do Verão em palavras dignas
de teatro onde as personagens circulam displicentemente por um magnífico
cenário doméstico mas que parece sempre ir além do infinito.
jef,
maio 2022
«Conto de Verão» (Conte d’Été) de Éric Rohmer. Com Melvil Poupaud, Amanda Langlet, Gwenaëlle Simon, Aurelia Nolin, Aimé Lefèvre, Alain Guellaff, Evelyne Lahana, Yves Guérin, Franck Cabot-David. Argumento: Éric Rohmer. Produção: Françoise Etchegaray, Margaret Ménégoz. Fotografia: Diane Baratier. Música: Philippe Eidel, Sébastien Erms. França, 1996, Cores, 113 min.
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