Não
nos preocupemos demasiado com a coerência narrativa neste filme porque o mais sugestivo nele é, exactamente, oquase frenético deambular da câmara, de cena para
cena, tentando captar as dissonâncias que existem sempre dentro de uma família
que parte apressadamente da cidade para passar férias na terra natal dos avós. De
Bayonne para o País Basco.
Desde
o início a tensão é constante. Compreendemos que quase tudo está incerto, periclitante, ansioso, que existem muitas verdades escondidas e algumas mentiras piedosas.
Porém,
todo o filme vive do confronto da personagem Aitor, depois Côco, depois Lucía
(Sofía
Otero), um miúdo de oito anos que se esconde de si próprio e dos outros por
rejeitar o próprio género, com a mãe, Ane (Patricia López Arnaiz) que vive no
impasse do próprio casamento, do trabalho, da educação dos filhos e do
confronto com a austeridade da sua mãe e a pesada carga vinda da memória do
pai, também ele artista e escultor.
A
instabilidade é constante e universal, mas a bondade e a ternura vai sempre
vencendo os espinhos e as permanentes "ferroadas" da duríssima vida familiar.
A
actriz-criança Sofía Otero faz um verdadeiro papelão, mas quem domina o ecrã, iluminando-o absolutamente do princípio ao fim, de modo quase
bergmaniano, expressionista, tenso, silencioso, caridoso, é a bela actriz Patricia López
Arnaiz.
Da
vida na colmeia. 20.000 espécies de abelhas e o Homo sapiens é uma delas.
jef,
julho 2023
«20
000 Espécies de Abelhas» (20.000 especies de abejas) de
Estibaliz Urresola Solaguren. Com Sofía Otero, Patricia López Arnaiz, Ane
Gabarain, Itziar Lazkano, Martxelo Rubio, Sara Cozar, Miguel Garcés, Unax
Hayden, Andere Garabieta, Julene Puente Nafarrate, Mariñe Ibarretxe Frade, Aintziñe
Rey Zurimendi, Julián Urkiola, Manex Fuchs, Rafael Martín, Fernando Ustarroz, Goize
Blanco, Teresa Ibáñez. Argumento: Estibaliz Urresola Solaguren. Produção:
Valérie
Delpierre e Lara Izagirre. Fotografia: Gina Ferrer. Espanha, 2023, Cores, 129
min.
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