Este
filme ensina-nos a conviver com o passado, um passado que, quando o recordamos,
ele próprio nos demonstra que o futuro é uma coisa efémera.
Não
há volta a dar, os dias esgotam-se. E o passado resultou nisto.
Contudo,
Giovanni/Moretti, nesse seu modo de realizador em crise dentro do pretérito de um
partido comunista obsoleto; dentro de um cenário que nunca está suficientemente
anotado; de actores criativos e actrizes de usam feias chinelas; de produtores
falidos e circos húngaros em exílio; de um casamento na cadeira de psiquiatra;
de uma esposa que produz um filme de falsa violência; irá reverter a
existência numa espécie de relatório final. Ou num rascunho, pois aquela até ao fim pode vir sempre a ser alterada.
Contudo,
Giovanni/Moretti olha a câmara de frente e nega para si próprio o campo-contracampo.
Fala-nos nos olhos e diz-nos que se quer ir embora, esconder-se debaixo dos
lençóis, tapar-se com o cobertor e ver na televisão um filme de Fellini a comer
um gelado. Em família. Ele é impositivo mas não se consegue impor a ninguém. Nem à própria
vida, ao próprio rascunho do futuro breve.
Fellini já tinha falado desse futuro final em «Fellini 8 ½» (1963). Wim Wenders em
«O Estado das Coisas» (1982).
Contudo,
Moretti/Giovanni propõe alterar-lhe o fim, torná-lo mais ligeiro, talvez mais
dançável, por isso, mais consciente (como diria David Byrne).
Acrescentar-lhe
a ternura, ou um sorriso, ou uma palavra, ou uma ideia.
Ou
um filme fundamental.
Colocar
o futuro em pausa.
jef, outubro 2023
«O
Sol do Futuro» (Il sol dell'avvenire) de Nanni Moretti. Com Nanni Moretti,
Margherita Buy, Silvio Orlando, Barbora Bobulova, Mathieu Amalric, Zsolt Anger,
Jerzy Stuhr, Arianna Pozzoli, Valentina Romani, Teco Celio, Elena Lietti,
Flavio Furno, Francesco Brandi, Michele Eburnea, Laura Nardi, Giuseppe
Scoditti, Arianna Serrao, Blu Yoshimi. Argumento: Francesca Marciano, Nanni
Moretti, Federica Pontremoli, Valia Santella. Produção: Nanni
Moretti e Domenico Procacci. Fotografia: Michele D’Attanasio. Música: Franco
Piersanti. Guarda-roupa: Silvia Segoloni. Itália / França, 2023, Cores, 95 min.
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