Nem
documentário. Nem reportagem. Nem ficção. Esclarecedor sem ser didáctico, paternalista. Acima de tudo, este filme traduz através do teatro,
da sobriedade, do humor e da poesia construída em torno da personagem de
Orlando de Virginia Woolf (1928), o complexo mundo contemporâneo da
transsexualidade e das pessoas que assumem serem não-binárias, ou seja, que não
se vêem como homem ou como mulher, géneros opostos e exclusivos, mas integrados
numa escala ou gradiente entre um sexo e o outro. Sem dogmas esclarece. Sem
rodriguinhos expõe a questão social. Sem lamechices ouvimos na primeira
pessoa, neste caso, pelos diversos Orlandos vestidos (ou travestidos) de
actores-reais que se consideram não-binários e, actualmente, percorrem no seu
interior o caminho de transformação e descoberta de um novo ser nos seus próprios corpo e mente. A
dificuldade de definição sexual; o processo de transformação a partir da puberdade;
o papel da toma de hormonas sintéticas e das cirurgias; como se estipulará administrativamente
a continuidade do número fiscal a uma pessoa cuja identidade já não corresponde
aos dados iniciais.
É
um filme que não tem contemplações, nem exibicionismo, nem autocomiseração como
forma de política de conquistar adeptos para a causa. Nada disso.
jef,
outubro 2023
«Orlando,
A Minha Biografia Política» (Orlando, ma biographie politique) de Paul B.
Preciado. Com Arthur, Emma Avena, Amir Baylly, Jenny Bel'Air, La Bourette, Nathan
Callot, Kori Ceballos, Liz Christin, Iris Crosnier, Naëlle Dariya, Tom Dekel, Clara
Deshayes, Virginie Despentes, Eleonore, Castiel Emery, Le Filip, Pierre et
Gilles, Noam Iroual, Vanasay Khamphommala, Lillie, Elios Lévy, Tristana Gray Martyr,
Victor Marzouk, Frédéric Pierrot. Argumento: Paul B. Preciado. Produção:
Yaël
Fogiel e Laetitia Gonzalez. Fotografia: Victor Zébo. Música: Clara Deshayes. França,
2023, Cores, 98 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário