terça-feira, 17 de outubro de 2023

Sobre o livro «O Corsário Negro» de Emilio Salgari. Círculo de Leitores, 1997 (1898). Tradução de António J. Pinto Ribeiro.










Emilio de Roccanera, nobre italiano e senhor de Ventimiglia, lidera o leme e as aventuras marítimas do grande navio “Relâmpago” pelos mares das Caraíbas, mares que circulam entre as riquezas das colónias espanholas, Cuba, Golfo do México, Venazuela... Mas o Corsário Negro não pretende as riquezas que rouba e que vai distribuindo pelos flibusteiros e bucaneiros que servem a equipagem do navio. Ele apenas quer recuperar o corpo enforcado do seu irmão o Corsário Verde, exposto na praça de Maracaíbo a mando do seu inimigo figadal, o flamengo a soldo dos espanhóis, Wan Guld. Esse sim, o arqui-inimigo e traidor para quem deseja a vingança suprema. A operação é coroada de êxito apesar de tão arriscada como aventurosa, secundada pelos companheiros de armas Carmaux e Wan Stiller, dois piratas que até então navegavam com um terceiro irmão assassinado, o Corsário Vermelho, e ainda pelo forte e leal negro Moko.

Claro que nenhum dos heróis morre! Claro que ninguém sequer fica ferido! Estejam descansados. E ainda aparece o amor misterioso e contido, talvez mesmo condenado, pela belíssima duquesa Honorata, feita prisioneira para servir um chorudo resgate. E ainda temos a eterna, lenta e sofrida progressão pelos mangais tropicais de Maracaíbo, onde as plantas, animais, feras e invertebrados são descritos com minucia, por vezes debaixo de violentas tempestades tropicais sob a luz de relâmpagos e fortes trovões comparados a carros e comboios apesar de estar em pleno século XVII.

Mas isso pouco importa, nem Salgari terá conhecido de perto as tropelias náuticas que narra e descreve. O que é bom reconhecer é que o autor italiano tem o jeito espantoso de alongar a narrativa ou de apressá-la a seu belo prazer, sem olhar a meios, tantas vezes sem coerência, mas dando-lhe um ritmo infatigável que, juntamente com a mestria de encher a história de apontamentos misteriosos que se desenvolverão mais além, torna-o um dos grandes mestres literários das leituras oníricas e novelescas dos adolescentes de antanho.

A seguir, pois claro, lerei «A Rainha das Caraíbas» para saber como a história continua.


jef, outubro 2023

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