quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Sobre o filme «C’est pas moi / Não Sou Eu» de Leos Carax, 2024







Este filme deixou-me desconfiado, talvez antes perplexo. Pareceu-me um acto de auto-satisfação, um modo estético de lamber as próprias feridas. Claro que o realizador tem estatuto para fazer esta espécie de scratch-and-sample, também de DJ and MC, sobre a própria obra, sobre a imensa história centenária do cinema. Claro que Leos Carax vive estética e eticamente assolado com o estado social do planeta. Claro que já realizou filmes brilhantes (e que eu não esqueço) e, claro, que escolhe imagens e momentos belíssimos, atirando ao espectador frases fundamentais…

Contudo, soa-me um pouco a filme-auto-elogio, filme-presunção. Uma obra a muita distância dos filmes que pretende evocar – essa época dourada, tão emocional quanto viva, inovadora, experimental, surrealista do cinema primordial, também de Luis Buñuel a Buster Keaton ou Dziga Vertov, depois Renoir, Godard, Tarkovski, Bergman, Manoel de Oliveira, Pedro Costa… Todos já tinham realizado filmes “estranhos”, muito mais políticos, muito mais belos.

Mas talvez seja eu, que ando um pouco cansado das velocíssimas imagens que permanentemente vejo na televisão.


jef, dezembro 2024

«C’est pas moi / Não Sou Eu» (C’est pas moi) de Leos Carax. Com Denis Lavant, Kateryna Yuspina, Nastya Golubeva Carax, Loreta Juodkaite, Bianca Maddaluno, Anna-Isabel Siefken, Petr Anevskii, Jean-François Balmer, Juliette Binoche, Guillaume Depardieu, Adam Driver, Yekaterina Golubeva, Michel Piccoli. Argumento: Leos Carax. Produção: Charles Gilibert. Fotografia: Caroline Champetier. França, 2024, Cores, 42 min.

 

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