Este
filme deixou-me desconfiado, talvez antes perplexo. Pareceu-me um acto de auto-satisfação,
um modo estético de lamber as próprias feridas. Claro que o realizador tem
estatuto para fazer esta espécie de scratch-and-sample,
também de DJ and MC, sobre a própria
obra, sobre a imensa história centenária do cinema. Claro que Leos Carax vive
estética e eticamente assolado com o estado social do planeta. Claro que já
realizou filmes brilhantes (e que eu não esqueço) e, claro, que escolhe imagens e momentos belíssimos, atirando ao espectador frases fundamentais…
Contudo,
soa-me um pouco a filme-auto-elogio, filme-presunção. Uma obra a muita distância dos
filmes que pretende evocar – essa época dourada, tão emocional quanto viva, inovadora,
experimental, surrealista do cinema primordial, também de Luis Buñuel a Buster Keaton
ou Dziga Vertov, depois Renoir, Godard, Tarkovski, Bergman, Manoel de Oliveira,
Pedro Costa… Todos já tinham realizado filmes “estranhos”, muito mais
políticos, muito mais belos.
Mas
talvez seja eu, que ando um pouco cansado das velocíssimas imagens que permanentemente
vejo na televisão.
jef,
dezembro 2024
«C’est
pas moi / Não Sou Eu» (C’est pas moi) de Leos Carax. Com Denis Lavant, Kateryna
Yuspina, Nastya Golubeva Carax, Loreta Juodkaite, Bianca Maddaluno, Anna-Isabel
Siefken, Petr Anevskii, Jean-François Balmer, Juliette Binoche, Guillaume
Depardieu, Adam Driver, Yekaterina Golubeva, Michel Piccoli. Argumento: Leos
Carax. Produção: Charles
Gilibert. Fotografia: Caroline Champetier. França, 2024, Cores, 42 min.
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