Como
dobrar uma bandeira por ocasião do funeral de um filho morto em combate.
A
América, a grande América, andou sempre em guerra e em conflito consigo
própria. Mas nunca o negou e, melhor, sempre o filmou. De John Ford a Clint
Eastwood. Por isso todos sabemos como se chora um filho morto na guerra.
Doc
Shepherd (Steve Carell), ex-fuzileiro da marinha, encontra-se com Sal Nealon (Bryan
Cranston) e Richard Mueller (Laurence Fishburne), camaradas de guerra no
Vietnam, para o ajudarem a dobrar a tal bandeira chegada da guerra do Iraque. Dezembro 2003.
No
percurso fúnebre, os três amigos contam a história da América e dos seus
traumas. O espectador aprofunda os trâmites da trasladação sob a vigilância
cerrada e o silêncio das regras militares e observa a mestria do realizador em
fazer «cinema político» na América.
Richard
Linklater tem um segundo dom. Deixar-nos presos às personas criadas pelos seus
actores. São extraordinários. A direcção de actores surpreende o espectador
fazendo-o assistir a uma comédia que se transforma na tragédia mais funda, confrontando
teatralmente três estereótipos da sobrevivência da guerra do Vietnam.
Pode,
a alguns, parecer um filme académico sobre a eterna guerra americana, porém
Linklater traduz de modo inteligentíssimo e cénico a fénix de um país enorme que
não teme retornar às suas eternas cicatrizes.
jef,
dezembro 2017
«Derradeira
Viagem» (Last Flag Flying) de Richard Linklater. Com Steve Carell, Bryan
Cranston, Laurence Fishburne, Yul Vazquez, Samuel Davis. EUA, 2017, 124 min.
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