sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Sobre o filme «Derradeira Viagem» de Richard Linklater, 2017















Como dobrar uma bandeira por ocasião do funeral de um filho morto em combate.
A América, a grande América, andou sempre em guerra e em conflito consigo própria. Mas nunca o negou e, melhor, sempre o filmou. De John Ford a Clint Eastwood. Por isso todos sabemos como se chora um filho morto na guerra.
Doc Shepherd (Steve Carell), ex-fuzileiro da marinha, encontra-se com Sal Nealon (Bryan Cranston) e Richard Mueller (Laurence Fishburne), camaradas de guerra no Vietnam, para o ajudarem a dobrar a tal bandeira chegada da guerra do Iraque. Dezembro 2003.
No percurso fúnebre, os três amigos contam a história da América e dos seus traumas. O espectador aprofunda os trâmites da trasladação sob a vigilância cerrada e o silêncio das regras militares e observa a mestria do realizador em fazer «cinema político» na América.
Richard Linklater tem um segundo dom. Deixar-nos presos às personas criadas pelos seus actores. São extraordinários. A direcção de actores surpreende o espectador fazendo-o assistir a uma comédia que se transforma na tragédia mais funda, confrontando teatralmente três estereótipos da sobrevivência da guerra do Vietnam.
Pode, a alguns, parecer um filme académico sobre a eterna guerra americana, porém Linklater traduz de modo inteligentíssimo e cénico a fénix de um país enorme que não teme retornar às suas eternas cicatrizes.

jef, dezembro 2017


«Derradeira Viagem» (Last Flag Flying) de Richard Linklater. Com Steve Carell, Bryan Cranston, Laurence Fishburne, Yul Vazquez, Samuel Davis. EUA, 2017, 124 min.

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