«Será isto uma
peregrinação?»
Questiona Laurie
Anderson no final. No tom pausado de quem ouve uma história para adormecer
sobre a morte, fica o eco das palavras. Talvez a vida seja mesmo essa coisa
estranha e abstracta, entre a alegre evocação e o sacrifício obstinado. Essa busca
do prazer dentro de um percurso penoso e simbólico. Essa coisa (que os actores
treinam) de nos sentirmos tristes sem estarmos tristes.
A morte da cadela ‘rat
terrier’ Lolabelle, a morte da mãe, a morte de Lou Reed. Uma placa de gelo
sobre o lago que se quebra e onde se afunda a cadeirinha onde empurrava os irmãos
gémeos. O medo da morte, o grito no salvamento, o sorriso agradecido da mãe… A
recordação transportada.
«Não se pode
compreender a vida sem olhar para o passado, não se pode vivê-la sem olhar para
o futuro.» A realizadora relembra Kierkegaard.
Por onde flutuaremos
nós, homens e animais, quando viajamos nesses 49 dias de ‘bardo’ que se seguem
à nossa morte? Estamos nós cientes de que encontraremos o erro da memória numa
história que repetimos mil vezes?
Será mesmo a morte a
libertação do amor?
Este é o melhor filme
para compreendermos que é na estética que se condensa o lado fiel e estático,
resoluto e inexorável, de uma história e de uma partida.
jef, dezembro 2017
«Coração de Cão» (Heart
of a Dog) de Laurie Anderson. Com Lolabelle (rat terrier). Música de Laurie
Anderson. EUA / França, 2015, Cores, 76
min.
Sem comentários:
Enviar um comentário