A precariedade não é
coisa inerte como a sílica quando obriga a deslizar as placas de argila, umas
sobre as outras, na inutilidade do barro.
A inércia que retarda o
rolar do comboio ou acelera as rodas do autocarro na travagem. Sobre os peões distraídos.
Inertes porque perplexos.
Dizem os panfletos partidários,
as tarjetas que os sindicatos distribuem no Terreiro do Paço, que a precariedade
do emprego, do salário, da habitação, do alimento, do espaço, do tempo, do incentivo,
do apego, é coisa mais da exigência. Menos da inércia ou do sentido.
Talvez não tenham assim
tanta razão.
A precariedade é como a
inércia, a angústia sem limites criada pela ausência da alma ou da ideia. O
arfar sem destino do sangue, áspero e argiloso, raspando contra as paredes
hirtas das artérias, em pausa oficiosa da vida mas sem coragem de lhe pôr termo definitivo.
Ah, a precariedade do
coração!
jef, dezembro 2017
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