segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Sobre o filme «O Dia Seguinte» de Hong Sang-soo, 2017







Não fosse uma comédia triste sobre um homem, poeta e editor, e as suas quatro mulheres (incluindo a derradeira e ausente da câmara, a própria filha) e poderíamos dizer que estávamos frente às comédias de enganos à Beaumarchais ou Marivaux, precedentes de bastilhas e revoluções.

Mas não. Esta é uma comédia triste de um homem e das suas mentiras e dos desejos que o fazem meter os pés pelas mãos, a líbido pela verdade. Caso contrário, até encontraríamos alguma parecença com os filmes de Woddy Allen.

Mas não. A luz desabrida e crua, certamente bela, sobre os enquadramentos sérios; o preto e branco a definir e enquadrar o frontal constrangimento das quatro personagens; a filmagem do diálogo sempre lado-a-lado, eliminando o subterfúgio do campo-contra-campo, atira aos espectadores a melancolia mais certeira do dia-a-dia. O álcool a revelar as lágrimas.

Nada é mais austero e triste, simultaneamente, caricatural e quase cómico, que a amargura transportada pelo esquecimento do dia seguinte. Nada mais confrangedor que o esquecimento de uma nota com um poema de amor deixada sobre a indiscrição de uma mesa.

Uma bela e simples peça de teatro sobre a normalidade da mentira e a verdade dos afectos.

jef, dezembro 2017


«O Dia Seguinte» (Geu- hu) de Hong Sang-soo. Com Cho Yunhee, Ki Joabang, Kim Min-hee, Kim Sae-byeok, Kwon Hae-hyo. Coreia do Sul, 2017, Cores, 92 min.

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