segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Sobre o filme «Paris, Texas» de Wim Wenders, 1984
















Por razões que não importa aqui referir, não pude ver o filme em reposição no cinema Nimas, em Lisboa, pelos finais de Janeiro. Cópia restaurada e digitalizada na fundação que o próprio realizador instituiu para o efeito.

Vejo-o agora. E recordo a importância que o filme teve na altura em que foi comercializado e, por muitos – eu incluído –, quase divinizado. Wim Wenders, Sam Shepard, Harry Dean Staton, Nastassja Kinski, Ry Cooder… Temi que perdesse o fulgor de conto de ternos cowboys perdidos, conto de bondosas fadas desviadas, parábola de quem viu no vermelho o ponto de fuga de uma América a que todos tínhamos direito.

Mas, afinal, «Paris, Texas» nunca deixou de estar perto do rio Vermelho, e o esplendor do restauro faz ainda brilhar as cores falsas de um continente que continua a ser nosso.

Travis (Harry Dean Staton) é um Cristo que caminha perdido no deserto, silenciando as palavras que não pode evitar dizer a Jane (Nastassja Kinski), que se mantém afastada do mundo por um vidro que, de certo modo, a santifica. O filho, Hunter (Hunter Carson), inocente, sonha com o Big Bang e adormece com a cabeça encostada ao Star Wars. Família sagrada no erro e na absolvição.

Assim revejo, agora, a secreta e ressurrecta América de Wim Wenders, Sam Shepard e Ry Cooder, continuando a acreditar que a realidade do cinema nos faz transportar para dentro do sonho que jamais voltaremos a abraçar.

jef, novembro 2017

«Paris, Texas» de Wim Wenders. Com Harry Dean Stanton (Travis Henderson), Nastassja Kinski (Jane Henderson), Dean Stockwell (Walt Henderson), Aurore Clément (Anne Henderson), Hunter Carson (Hunter Henderson), Tom Farrell (Screaming Man), John Lurie ('Slater'). Sobre um texto de Sam Shepard, argumento de L.M. Kit Carson. Música de Ry Cooder. Alemanha / França, 1984, Cores, 145 min.

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