segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Sobre o disco «French Touch» de Carla Bruni, Teorema / Verve / Universal, 2017


















Gosto muito deste disco. Na música popular a essência da novidade está, exactamente, em repetir segundo o coração que a ouve. E Carla Bruni repete-me bem algumas das canções nele instaladas mas sem macular a memória que delas guarda, adicionando-lhes ainda a dose justa de falta de vergonha e desfaçatez que dão aquele toque especial de estarmos a pisar terra de incréu.

Juntar Depeche Mode «Enjoy de Silence» (já que as palavras magoam) com Clash «Jimmy Jazz», «Love Letters» de Dick Haynes e «Miss You» dos The Rolling Stones, não seria razoável.

Renegociar o «The Winner Takes it All» dos Abba, colocando-o mesmo antes do «Crazy», em dueto com o próprio Willie Nelson, e depois atirá-lo para os braços dos AC/DC («Highway to Hell»), tem que se lhe diga.

Ir tocar na perfeita «A Perfect Day» de Lou Reed e colá-la a «Stand by Your Man» (Tammy Wynette), que me traz à memória a extraordinária Dolly Parton, ultrapassaria os limites.

Mas, pior, terminar recordando Rita Hayworth em «A Dama de Xangai», com «Please Don’t Kiss Me», ou a intocável «Moon River» cantada por Audrey Hepburn em «Breakfast at Tyffany’s», seria razão para mandato de prisão imediata!

Mas o raio do disco roubou-me o músculo cardíaco. Carla Bruni deixa a sua voz de Nouvelle Vague / Nouvelle Chanson ao sabor dos arranjos cirurgicamente simples e discretos de Davis Foster que sabem acarinhar e esconder a sua afinada desafinação.

Mas se não gosta da forma sussurrada, por vezes adolescente no vibrato, por vezes quebrada no pianíssimo, entre o jazz de bar de hotel e a jukebox de um diner madrugada dentro, não vai ser agora. Esqueça! Esqueça também Sarkozy!
Carla Bruni continua a ser o que sempre foi… a cantar o que sempre quis.
E continua linda de morrer nestas fotografias de antologia realizadas por Mario Sorrenti, esse tal…

jef, novembro 2017

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