Almoço na erva
Saber reconhecer a injúria não pelo acto próprio mas pelo
dano que me causou.
E o dano pela consequência de ter passado o melhor dia da
minha vida entre as árvores de uma floresta, quase jardim, e as pequenas flores
que, muito a custo, abrem as corolas à penumbra que cobre, ténue, o manto
herbáceo onde me deito agora, reconhecido que sou pela languidez oferecida,
conversa de palavras belas e distantes, quase inconsciente, neste almoço
reclinado. Ausência passada entre amigas nuas e pintores.
Só que florestas destas, carvalhos densos e bondosos, tílias
ou freixos magnânimos, viburnos, crategos, e doces, tão doces e nuas benfeitoras, já
não existem.
Por isso, sou obrigado e reconhecer a injúria de um acto
quando é proporcional aos danos causados pelo abuso consciente da minha
imaginação.
«Le Déjeuner sur l'Herbe» Édouard Manet, 1863
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