A
solidão da chegada.
Ou
como Eva (Eszter Balint), vinda de Budapeste, não é recebida por Willie (John
Lurie), seu primo. Ou como Eddie (Richard Edson), amigo de Willie, repara em
Eva. Ou como os dois amigos partem de carro, com o bolso cheio de dólares
ganhos ao póquer (com bluff), em busca de Eva que foi viver com a tia Lotte
(Cecilia Stark).
Afinal,
um filme sobre a solidão das chegadas e de um certo fim dos sonhos de
juventude. Apesar de tudo, o oposto de «Jule e Jim» de François Truffaut (1962)
e «Bando à Parte» de Jean-Luc Godard (1964). Apesar de tudo, três filmes em
hipótese e tese.
Afinal,
para quê partir se tudo é igual em todo o lado?
Nova
Iorque – Cleveland – Florida.
Este
filme destrói a esperança com o humor sub-reptício das curtas cenas separadas
por slides negros para oferecer ao espectador o tempo de as digerir, estética e
cognitivamente, e entender como é possível fazer uma comédia sobre a desilusão
e as eternas falsas partidas.
O
diálogo com o amedrontado, zangado ou febril, operário fabril. A bisca jogada
com a tia Lotte. A beleza branca do lago de Cleveland. A balada «I Put a Spell
on You» de Screamin Jay Hawkins, a sair de um leitor de cassetes.
Na
realidade, nada mais estranho do que o Paraíso.
jef,
novembro 2017
«Para
Além do Paraíso» (Strager than Paradise) de Jim Jarmusch. Com John Lurie, Eszter Balint, Richard Edson, Cecillia
Stark, Danny Rosen, Tom DiCillo. Música: John Lurie. EUA, 1984, P/B, 89 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário