De Helsínquia, com esperança. Ou seja, De
Helsínquia com amor.
Aki
Kaurismäki consegue não se rir. Mesmo quando fala das coisas mais sérias.
Qualquer coisa entre Dario Fo e David Lynch. Qualquer coisa entre o político, o
estético e o Jacques Tati.
O
refugiado sírio Khaled (Sherwan Haji) chega ao porto de Helsínquia escondido
num navio de carga e quase é atropelado pelo ex-vendedor de camisas Wilstrom (Sakari
Kuosmanen) que acabou de deixar a aliança no cinzeiro da sua mulher, alcoólica. Khaled e
Wilstrom, um empregado, outro patrão, acabam irmanados no exílio de um
restaurante que, para sobreviver, deve alterar as ementas ao sabor do gosto da
clientela. Khaled perdeu a irmã algures nos Balcãs, Wilstrom ganhou uma pipa de
massa à mesa de um casino clandestino.
Em
«O Outro Lado da Esperança», Kaurismäki coloca os actores quase
esfíngicos, ao som de uma série de velhas bandas finlandesas de blues, dentro
de cenários muito mais «eslavos» que «escandinavos», deprimidos e cinzentos, sob
a égide de Jimmy Hendrix e da solidariedade mais amorosa.
Desde
a magnífica cena quase sem palavras em que Wilstrom, de mala na mão, se despede
da mulher, até aquela outra cena, quase bíblica, do grupo de skinheads que
atacam Khaled e que são rechaçados por um grupo de desgraçados sem-abrigos.
Tudo
neste filme está do lado da esperança, é seriamente cómico, é delirantemente
sério, é esteticamente estilizado para que o olhar e a consciência do
espectador se concentrem no essencial da Arte.
«O
Outro Lado da Esperança» é um filme fora de moda e totalmente dentro do nosso tempo. A ser
visto com urgência!
jef,
novembro 2017
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