segunda-feira, 11 de março de 2019

Sobre o filme «A Portuguesa» de Rita Azevedo Gomes, 2018
















Num vasto quadro de planos irreais, quase renascentistas, quase impressionistas, natureza-morta, paisagem-cristalizada, a veracidade dos adereços são coisa pouca. Cenários e personagens movem-se em torno da princesa portuguesa, entediada e herege, von Ketten (Clara Riedenstein), enquanto esta aguarda o seu marido que partiu novamente para a guerra. Von Ketten (Marcello Urgeghe) deseja arrebatar as terras do Bispo de Trento, no norte de Itália; deseja ainda a aventura bélica, que a paz podre não lhe serve.

O filme-pausa sai de uma novela de Robert Musil.

A cena em que a Portuguesa galopa contra o fundo verde de uma floresta que lhe escapa é talvez o tópico maior da intuição estética da realizadora Rita Azevedo Gomes. Essa imagem é como um mural reactivo perante a nova vida da Portuguesa, passada entre animais cativos e folhada morta. O manto florestal combina com os tecidos e as paredes, os brocados e o nevoeiro. Muito de Ofélia sobreviva e lírica aqui se desvenda. Muito também é construído pela fotografia de Acácio de Almeida. Outro tanto pelo diálogo de Agustina Bessa-Luís, ainda mais ajudado pela banda sonora composta por José Mário Branco.

Um filme a contemplar.

jef, fevereiro 2019

«A Portuguesa» de Rita Azevedo Gomes. Com Clara Riedenstein, Marcello Urgeghe, Rita Durão, Pierre Léon, Luna Picoli-Truffaut, João Vicente, Adelaide Teixeira, Manuela de Freitas, Alexandre Alves Costa, Ingrid Caven. Argumento: Rita Azevedo Gomes segundo texto de Robert Musil. Diálogos: Agustina Bessa-Luís. Director de Fotografia: Acácio de Almeida. Som: Olivier Blanc. Música: José Mário Branco Portugal, 2018, Cores, 136 min.

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