sexta-feira, 1 de março de 2019

Sobre o filme «As Cinzas Brancas Mais Puras» de Jia Zhang-ke, 2018


















Jia Zhang-ke afasta-se do mundo do movimento social desestruturado e calada falência de laços familiares que a China moderna provoca. Vão longe «24 City» (2008) e «Still Life – Natureza Morta» (2006), talvez dois dos mais importantes 'filmes sociais' que vi. Contudo, o local da actual barragem das Três Gargantas está lá e a maravilhosa actriz Zhao Tao, também. Aproximamo-nos de «Se as Montanhas se Afastam» (2015) e também dos Village People. Ali, «Go West» pela versão dos Pet Shop Boys, agora «YMCA». Canções-ícones que provocam uma dessintonia temporal entre o Ocidente e o Oriente chinês, alertando para um conflito de aproximação e, simultânea, rejeição face à modernidade e à quebra da tradição. Assunto muito de Jia Zhang-ke.

Interessante, a incursão «americana» no melodrama amoroso, intenso e insolúvel, quase pungente, à moda de Nicholas Ray ou Vicente Minnelli, quando a jovem e voluntariosa Qiao (Zhao Tao) se apaixona por Bin (Liao Fan) líder da máfia, e, por amor, se entrega a cinco anos de prisão, iniciando-se um conflito sentimental que nos faz seguir por uma estratégia de filme-viagem entre episódios sucessivos, quase contos independentes, por vezes desconexos, baseados em diálogos soberbos e numa cenografia muito característica no realizador. De facto, Zhao Tao, digamos, sustenta o filme com a caracterização das ‘múltiplas personagens’ de Qiao.


Se eu não fosse avesso às classificações de género na arte, diria que este filme é um belo 'filme feminista'.

jef, março 2019
                                
«As Cinzas Brancas Mais Puras» (Jiang hu er nv / Ash is Purest White) de Jia Zhang-ke. Com Zhao Tao, Liao Fan, Yi'nan Diao. Fotografia: Eric Gautier. Música: Lim Giong. China / França, 2018, Cores, 137 min.

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