quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Sobre o filme «Dor e Glória» de Pedro Almodóvar, 2019



















Este é um caso raro no cinema de Pedro Almodóvar. O cineasta faz centrar a atenção do espectador no que interessa e obriga-o a esquecer que está a ver um filme de Pedro Almodóvar. Não é bem uma comédia de costumes, nem deixa de ser. Não é um melodrama trágico, apesar de tudo o indicar. Como sempre, tem a música de Alberto Iglesias, a produção de Agustín Almodóvar, uma torradeira vermelha em forma de autocarro, quadros na parede de autores famosos, o guarda-roupa colocado ao milímetro sobre a luz excepcional, as cores e os decores abertos ao pantone e em esquadria. Também as coincidências narrativas que fazem a boa ficção ser verosímil e de que o cinema de Almodóvar está carregado emocionalmente.

Então, por que saem os espectadores um pouco de cara à banda? Talvez porque existe uma entrega total de Antonio Banderas (premiado em Cannes) a um papel que poderia ser representado por Pedro Almodóvar. E, em simbiose, porque é um acto de quase amor do realizador oferecendo o papel que mimetiza a vocação dramática de Antonio Banderas, e por que este tanto ansiava.

Antes de mais, o espectador fica suspenso, sem saber bem se é um filme típico do realizador, pois é difícil receber como diversão um acto dramático tão cru, tão puro, sobre a idade que, impiedosa, vai cobrindo a vida de memórias rasuradas e dias futuros cada vez menos brilhantes e mais dolorosos.

jef, setembro 2019

«Dor e Glória» (Dolor y Gloria) de Pedro Almodóvar. Com Antonio Banderas, Asier Etxeandia, Leonardo Sbaraglia, Penélope Cruz, Raúl Arévalo, Julieta Serrano, César Vicente, Nora Navas, Susi Sánchez, Julián López, Agustín Almodóvar. Música: Alberto Iglesias. Espanha, 2019, Cores, 113 min.

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